Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Parentes das 199 vítimas do acidente com o vôo 3054 da TAM, ocorrido no dia 17 de julho de 2007, no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, esperam que um memorial às vítimas seja construído no local onde funcionavam um posto de gasolina e o terminal de cargas da companhia, contra o qual se chocou o Airbus A320 da companhia.
A TAM doou o terreno à Prefeitura de São Paulo. Segundo divulgou a assessoria de imprensa da prefeitura, será construída uma praça no local, a qual já tem, inclusive, nome: Praça dos Ipês Amarelos. O local continua cercado por tapumes, aguardando a desapropriação dos imóveis vizinhos e a aprovação do projeto de construção da praça.
A Associação das Famílias e Amigos das Vítimas do Vôo 3054 (AfavTAM), no entanto, não aceita a proposta. Segundo o conselheiro da entidade, Sérgio José Palmieri, a expectativa dos parentes é de que o lugar abrigue algo “à altura” do maior acidente da história da aviação civil brasileira. “Nunca chamamos [o projeto] de praça, nem nunca chamaremos”, diz Palmieri.
Segundo o conselheiro, que perdeu seu filho, o advogado Marcelo Rodrigues Palmieri, de 38 anos, no acidente, projeto apresentado à prefeitura pela associação prevê a construção de um memorial que sediaria alguma iniciativa sócio-cultural. Ele cita como exemplo o memorial às vitimas do atentado contra o World Trade Center, em Nova Iorque. No local onde antes ficava o edifício deve ser construído um prédio de até seis andares subterrâneos, com mais um pavimento acima do nível do solo.
“Não temos tanta pretensão porque sabemos da limitação das verbas [públicas]”, comentou Palmieri, sem afastar a possibilidade de que a iniciativa receba investimentos do setor privado. “Pelo menos a infra-estrutura básica da quadra terá que ser entregue em condições adequadas para a gente ir em busca de entidades que possam participar”.
“Se for criado um memorial, os nomes [das vítimas] serão inscritos [em um muro, como no monumento existente em Washington (EUA) em homenagem aos combatentes mortos no Vietnã] e ficarão expostos. Se for uma praça aberta, abandonada, eu não irei permitir que façam xixi em cima do nome do meu filho”, afirmou o conselheiro. “Eu jamais emprestaria o nome do meu filho para um local que, com o tempo, iria se deteriorar como muitos outros lugares da cidade”.
Questionado se não seria perigoso voltar a construir um prédio no local, Palmieri comentou que qualquer que seja a finalidade a ser dada ao terreno, não deverá contrariar a legislação, pondo em risco a segurança dos vôos. Para ele, no entanto, Congonhas é uma constante fonte de risco às milhares de pessoas que vivem na vizinhança.
“Não deveria ser o terreno onde ocorreu o acidente que deveria estar sendo desapropriado, mas sim o aeroporto, um perigo não só para quem estiver [dentro de] em qualquer coisa que seja construída junto ao memorial, mas para toda a população que circula por ali”, afirmou. “Ali há um risco iminente até para quem trafega pelas avenidas [Washington Luiz e Bandeirantes], que têm um trânsito imenso”.
A Agência Brasil procurou a Secretaria de Governo e Negócios Jurídicos da Prefeitura de São Paulo para comentar o assunto e a assessoria de imprensa respondeu que a prefeitura está concluindo a desapropriação de alguns imóveis, localizados ao lado do terreno já doado pela TAM, e que também discute com a AfavTAM o projeto que deverá ser implantado no local.
Para Palmieri, não há pressa, desde que o desejo das famílias seja atendido. “Queremos fazer uma coisa bem feita, uma homenagem que venha perpetuar a memória das pessoas vitimadas no acidente. Se tiver que demorar cinco anos, vai demorar”.