Rodada Doha volta a ser discutida neste mês pelo Brasil e a Argentina

02/07/2008 - 5h52

Mylena Fiori
Enviada especial
San Miguel de Tucumán (Argentina) - Brasil e Argentina estão dispostos a aparar as arestas de forma a facilitar as negociações da Rodada Doha.  Otema foi tratado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em encontrobilateral com a presidente argentina, Cristina Kirchner, nessaterça-feira (1º) em San Miguel de Tucuman. Lula anunciou a intenção de novareunião sobre o tema ainda em julho, antes de uma possível reuniãoministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), que teria como objetivofechar a rodada antes das eleições norte-americanas.  “Temque acertar detalhes, é importante que esses detalhes sejam pensadosnuma conversa com a Argentina porque não estamos pensando apenas noBrasil, estamos pensando num acordo que contemple os interesses dospaíses do Mercosul”, justificou Lula.OMercosul é o responsável da vez pela dificuldade de um acordo. Maisprotecionista que o Brasil em relação à sua renascente indústria, aArgentina resiste em escancarar as portas para os produtos industriaisdos países desenvolvidos – principal moeda de troca na barganha pormaior espaço para produtos agrícolas dos países em desenvolvimento nomercado internacional. Comoa Tarifa Externa Comum é o principal pilar da União Aduaneira a que sepropõe o Mercosul, o Brasil se recusa a oferecer cortes nas tarifaspara produtos industriais maiores que aqueles oferecidos pelosparceiros do bloco. “É possível flexibilizar na questão industrial e naquestão de serviço desde que isso não seja um impeditivo para vocêdesmobilizar o crescimento industrial de países que passaram tantos etantos anos sem poder crescer”, ponderou Lula em entrevista coletiva. “Não é justo que num momento em que as economia dos países do Mercosulcomeçam a crescer você tenha um acordo que proponha truncar ou fecharesse crescimento”, frisou. Otema já havia surgido na sessão plenária da 35ª Cúpula de Chefes deEstado do Mercosul e dos Estados Associados. Lula defendeu o fim dossubsídios agrícolas nos países ricos como forma de estimular a produçãode alimentos nas nações mais pobres ou em desenvolvimento e, assim,superar a crise alimentar mundial.  Jáa presidente argentina, Cristina Kirchner, disse que é preciso botar nabalança quanto a região tem a ganhar e a perder com um acordo na RodadaDoha. “Não há que se ter clichês ideológicos frente a negociaçõeseconômicas. Simplesmente, contabilizar”, afirmou. “O que temos quediscutir é o que o acordo representa em termos de vantagens, detrabalho, de melhor qualidade de vida para nossos representados e emquanto prejudica o trabalho, a indústria e a qualidade de vida denossos homens e mulheres. Esses devem ser os parâmetros que devemosanalisar no momento de decidir nossa postura frente a Doha, nada maisque isto”, argumentou.