Chefes de Estado do Mercosul defendem reação regional à lei de imigração européia

02/07/2008 - 6h07

Mylena Fiori
Enviada especial
San Miguel de Tucumán (Argentina) - Commaior ou menor indignação, todos os chefes de Estado presentes à 35ªCúpula do Mercosul e dos Estados Associados defenderam uma reaçãoregional frente à Lei de Retorno européia, que estabelece regras maisduras para tratamento de imigrantes ilegais.  Atéa noite de ontem (1º), os documentos oficiais da reunião não haviam sidodivulgados, mas a presidente argentina, Cristina Kirchner, informou emsessão plenária que o rechaço às novas regras constaria na declaraçãofinal dos presidentes. Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou acusar os europeus deracismo. “Outro lado do oceano desencadeia odiosa perseguição aoslatino-americanos, muitas vezes cercada de conteúdos racistas”, afirmou.Praticamentetodos os chefes de Estado lembraram que a região, no passado, acolheuimigrantes europeus e é inadmissível o tratamento dado agora aoslatino-americanos. “NoUruguai, quando perguntam de onde descendemos, dizemos que descendemosde barcos”, disse o presidente Tabaré Vasquez. “Nos dói particularmenteque se tente discriminar e não se respeite os direitos doslatino-americanos que hoje tiveram que buscar em outras terras o quenão encontram nas suas, como fizeram nossos avós. “Ninguém imigra porprazer, o faz por necessidade”, frisou.Omesmo argumento foi usado pela presidente chilena, Michelle Bachelet. “Nossos países foram muitos generosos e solidários com os europeus quechegaram noutro século em nossas terras. Agora somos nós osimigrantes”, ponderou. Ovenezuelano Hugo Chavez – que já ameaçou com a possibilidade derepresálias às empresas européias instaladas em seu país – pediu açõesmais efetivas que um simples protesto do Mercosul e seus EstadosAssociados. “Buscar uma posição comum é necessário. Temos que preverações. A Europa civilizada legalizou barbárie”, disse Chavez. “Queriachamar para que assumamos posições comuns e muito firmes”, reiterou.Na última sexta-feira (27), o Parlamento do Mercosul já havia aprovado resolução de rechaço àsnovas regras imigratórias da União Européia. De acordo com o ministrobrasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a indignação com alei de imigração européia pode ser levada à Assembléia Geral das NaçõesUnidas, em setembro. Como exemplo de exagero da União Européia, lembraque a previsão de “internamento” para crianças ilegais é a mesma antesprevista para os integrantes do IRA. “Tudoisso precisa de uma análise jurídica bem detida, mas o termo é o mesmoque se usava quando se prendiam os terroristas da então consideradaterrorista IRA. Deixar uma criança presa como se fosse um terroristaporque simplesmente não tem um documento para morar no país é duro”,comentou.