Agenda de direitos humanos está estacionada nas empresas, diz presidente do Ethos

24/06/2008 - 6h22

Vinicius Konchinski
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Sessenta anos depois da promulgação da Declaração Universaldos Direitos Humanos, alguns artigos do documento aprovado em assembléia-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) ainda não são respeitados por empresas e pelo Estado brasileiro. Na opinião de RicardoYoung, presidente do Instituto Ethos, dedicado a promover práticas deresponsabilidade social corporativas, as companhias e osórgãos governamentais, há anos, já não avançam para resolver de forma efetivadesigualdades encontradas em ambientes de trabalho.“Dos dez princípios universais que constam da Declaração Universal dos Direitos Humanos, sete dizem respeitos a direitos humanospropriamente ditos e a direitos do trabalho. Por que essa agenda avançatão pouco?”, disse Young à Agência Brasil. “Realizamos pesquisas sobre a diversidade em empresas há oito anos e verifica-se queestamos estacionados no assunto.”Dados de levantamentos citados por Young apontam que, enquantoas mulheres representam 40% da População Economicamente Ativa (PEA) do país,elas ocupam somente 35% das vagas de emprego. Ainda segundo Young, enquanto mais dametade da população brasileira é negra e 13% têm alguma deficiência, só 3,5% e0,4% dos cargos de direção são ocupados pelos negros e deficientes,respectivamente.“Nem as leis estão sendo aplicadas corretamente”,complementou Young, lembrando que já existe legislação que prevê a reservade vagas de emprego em empresas com mais de 100 funcionários para trabalhadorescom deficiência. “Por que as empresas, mesmo quando se dizem socialmenteresponsáveis, não cumprem tudo o que está estabelecido? Por que o governo, quedeveria servir como exemplo, também não o faz?”Hoje (24), Young discutirá práticas de direitos humanos durante evento que vai reunir, em São Paulo, representantes do governo e 300presidentes de companhias brasileiras. O presidente Luiz InácioLula da Silva e o ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH),Paulo Vannucci, estarão presentes.Segundo Rogério Sottili, secretário adjunto da SEDH, serão discutidas formas para que as empresas aprofundem sua participaçãonas ações para aumento de direitos dos trabalhadores. Igualdade racial e degênero, trabalho infantil, trabalho forçado e acessibilidade e empregabilidadede deficientes farão parte da pauta do encontro.Ao final do evento, de acordo com Sottili, empresáriose governo assinarão uma declaração em que se comprometem a intensificarpráticas voltadas ao cumprimento da Declaração Universal dos DireitosHumanos.