Pochmann atribui queda na desigualdade de renda à elevação do salário mínimo

23/06/2008 - 19h03

Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A desigualdade de renda entre os trabalhadoresbrasileiros caiu quase 7% entre o quarto trimestre de 2002 e oprimeiro trimestre de 2008, segundo estudo divulgado hoje (23) peloInstituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).O levantamento foi realizado nas regiõesmetropolitanas de Salvador, Recife, Belo Horizonte, São Pauloe Porto Alegre. O índice de Gini, que representa o intervaloentre a média salarial dos 10% mais pobres da populaçãoe a média salarial dos 10% mais ricos, caiu de 0,543 para0,505. O estudo apontou uma inversão na tendênciahistonicamente registrada no país de concentração.No entanto, de acordo com o presidente do Ipea, Marcio Pochmann, oBrasil ainda se encontra entre os dez países que apresentam ospiores níveis de distribuição de renda. O Ginivaria de zero a um. Quanto mais perto de um, maior a desigualdade. "Para um país não serprimitivo, esse índice precisa estar abaixo de 0,45”,explicou Pochmann. Segundo ele, por muito tempo, o Brasil figurouentre os países de maior desigualdade de renda. “Estávamos acostumados a perceber que a desigualdade vinhaaumentando.” Os números indicam que, no períodoanalisado, a renda dos mais pobres foi quase cinco vezes maior que arecuperação da renda dos mais ricos. Para calcular oGini, o Ipea subdivide a população ocupada no paísem dez grupos, de acordo com a renda média. No acumulado doperíodo, os três grupos com médias salariais deR$ 206, R$ 378 e R$ 422 tiveram aumentos de 21,96%, 29,91% e 15,79%.Já os três grupos com renda maior, com médias deR$ 1.159, R$ 1.797 e R$ 4.853 acumularam ganhos de 2,3%, 2,1% e 2,6%.Para Pochmann, a redução dadesigualdade entre os ocupados nas regiões metropolitanasbrasileiras se deve fundamentalmente à elevaçãodo salário mínimo, que contribuiu para que ostrabalhadores de menor rendimento pudessem manter o poder aquisitivoe, segundo os dados apresentados, até aumentar o seu poder decompra em relação aos demais ocupados. Pochmann destacou como outro dado positivo a quedada desigualdade ter ocorrido em um ambiente de expansão daeconomia, pois tal cenário poderia ser um fator para aumento dadesigualdade. "Estamos observando uma recuperação média dos salários entre 2003 e 2007. Nesse período, a média dos salários cresceu em 8% de forma acumulada – justamente os 40% mais pobres tiveram uma recuperação muito maior do que a média nacional. Estamos em um sinal positivo porque todos os trabalhadores ricos ou pobres tiveram aumento em sua renda, principalmente os mais pobres.". Ele destacou ainda o fato de o país estar atualmente diante de um cenárionuito diferente do que se observou nos últimos 30 a 40 anos e que vempermitindo, justamente agora, a redução dadesigualdade. "Neste momento em que no Brasil cresce a atividadeeconômica, aumenta a ocupação e a desigualdadenão está ocorrendo. É um bom sinal e nos apontapara a perspectiva de estarmos no rumo de país menos injusto."  Na opinião de Pochmann, as políticasde transferência de renda são outro fator que podejustificar redistribuição. “Elas protegem os maispobres entre os pobres, especialmente quando não têmacesso ao mercado de trabalho e se encontram fragilizados, muitasvezes em situações que os distanciam.”Nesse caso, benefícios como o Bolsa Famíliapodem ter influenciado: “Os que estão ocupados, mas recebemo Bolsa Família também o declaram como renda, por issosua incidência nos números”, afirmou Pochmann.Para ele, é necessário ainda umconjunto de outras políticas para fazer com que os saláriosaumentem sua participação na renda nacional. Isso podeser realizado seguindo exemplos internacionais, por intermédiode políticas tributárias que determinem que os impostossejam mais progressivos. Que os pobres paguem menos impostos emrelação aos que detêm maior renda no país,concluiu o presidente do Ipea..