Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A estratégia dedirecionar investimentos para o setor agrícola, principalmentepara produtos de exportação, não será asolução para controlar a inflação. Essa éa análise feita pelo economista Salomão Quadros,professor da Fundação Getulio Vargas e responsáveltécnico pelos índices econômicos medidos pelainstituição. “Não édessa forma que o governo vai conseguir amenizar a inflação.O governo só vai conseguir aumentar a produçãoque vai ser colhida e comercializada no ano que vem. As safras dessesprodutos ocorrem no final do verão, em fevereiro ou março.Até lá, a inflação vai andar por contados choques externos e da demanda interna”, explicou Quadros.Para ele, énecessário tomar medidas urgentes para conter a demanda e,nesse caso, resta ao governo a opção de reduzir oacesso ao crédito, ou seja, aumentar a taxa de juros. “Existem algumasmedidas que devem ser tomadas mais urgentemente, por exemplo,controlar um pouco a demanda interna. O instrumento mais eficaz nomomento é a taxa de juros. Ele não é o único,mas entre os que estão colocados realmente a disposiçãodo governo, ele é o mais eficaz”, destacou o professor.Após se reunircom o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na últimasexta-feira (19), o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, anunciou o incremento na produção de alimentos comovértice da luta contra a inflação. O governo vai lançar o Plano Agrícola e Pecuário, para a safra 2008-2009, no dia 3 de julho.O novo pacoteagrícola vai destinar a agricultores empresariais R$ 65 bilhões parafinanciar a próxima safra. O governo vai investir ainda outrosR$ 13 bilhões na agricultura familiar. O ministro da Fazenda,Guido Mantega, negou, também na sexta-feira, que o governopretenda aumentar novamente o superávit primário(economia de recursos para pagar os juros da dívida pública)e tomar novas medidas de restrição ao crédito. O maior exemplo de queo aumento da produção agrícola não vaiinfluenciar a redução dos preços, principalmente dosalimentos, de acordo com Quadros, foi o que ocorreu com o preçodo arroz. “A relação oferta/demanda do mercadobrasileiro não justificava a elevação do preçodo arroz. A produção dava para atender a demanda local.Tanto que, em março, o preço do arroz estava atécaindo. O que aconteceu foi que o preço do arroz subiu nomundo e o agricultor brasileiro percebeu que era mais interessante venderno mercado internacional. Aí, o preço do arroz noBrasil, imediatamente, começou a subir”, exemplificou. Quadros explica que osmercados são cada vez mais integrados e, mesmo que se aumentea produção doméstica agrícola, isso nãose refletirá tanto assim no mercado interno. “A globalizaçãotem essa característica. Ela reduz um pouco o poder do governosobre o seu próprio país”, destacou.O economista reconheceua dificuldade do governo em cortar gastos, situação quereforça a demanda pelo aumento dos juros. “Os gastos nãoestão diminuindo. O governo acena de um lado, aí temuma pressão para aumentar de outro, aumentar salários,corrigir o Bolsa Família, por exemplo. Todas essas despesastêm a sua razão. O governo encontra dificuldades defazer isso porque significa tomar uma decisão que vaicontrariar algum objetivo social ou político. O controle mesmoda inflação vai ter que vir da políticamonetária e seus efeitos sobre o setor privado. Énecessário encarecer o crédito”, enfatizou Quadros.De acordo com ele,a inflação no Brasil só não foi maiordevido ao cenário de valorização do câmbioque vem ocorrendo desde o ano passado. “A inflaçãobrasileira já vem passando por um amortecimento devido aocâmbio. O câmbio não pára de valorizar. Esse anoele já valorizou perto de 10%. No ano passado, quase 20%. Nosúltimos quatro anos, o câmbio caiu 50%. Isso temcolaborado. Na ausência dessa valorização docâmbio, a inflação aqui teria sido bem maior”.