Trabalho infantil nas ruas leva à inversão de papéis, diz pesquisador

12/06/2008 - 15h20

Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Na maior parte dos casos, a rua é uma "alternativa" de geração de renda para famílias de crianças e adolescentes que fazem parte dos "quadros de pobreza, miserabilidade e baixa escolarização". A conclusão é de um estudo que mapeia as ações desenvolvidas naBaixada Fluminense voltadas a crianças e adolescentes e que está sendolançado hoje (12), no Rio de Janeiro, marcando o Dia Nacional de Combate ao TrabalhoInfantil.A Baixada Fluminense,segundo dados do Censo Demográfico de 2000 do Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística (IBGE), faz parte da região metropolitana do Rio deJaneiro, que concentra 75% da população do estado (10,9 milhões depessoas). Cerca de 18% desse total (1,9 milhão) vive abaixo da linha dapobreza, o que segundo o documento caracteriza "elevada vulnerabilidadesocial".Segundo o coordenadordo Projeto Circo Baixada, José Cândido, responsável pela realizaçãoda pesquisa, o trabalho infantil nas ruas leva a uma inversão de papéis. "Elas [as crianças] saem àsruas para gerar renda para a própria família e acabaocorrendo uma inversão depapéis. Crianças e adolescentes vão trabalharenquanto os pais ficam em casa",destacou.Foi o que aconteceu como auxiliar de serviços gerais Paulo Márcio de Oliveira, que começoua trabalhar nas ruas aos 10 anos de idade. "Meu pai estavapreso e a minha mãe tinha que sustentar eu e mais cinco irmãos, nãodava. Por isso comecei a vender amendoim pelas ruas do Rio, mas como ganhava muitopouco comecei a roubar e acabei preso. Só consegui mudar de vida quando comeceia participar de um projeto social de uma igreja evangélica",contou.O coordenador doProjeto Circo Baixada explica ainda que geralmente as crianças começamvendendo e pedindo em locais próximos às suasresidências, depois migram para oscentros urbanos mais próximos e até para o centro da capital, afastando-sede casa, desvinculando-se da família e aproximando-se das drogas e da práticade furtos.O estudo aponta tambémque a exploração sexual é um problema recorrente vivido por essascrianças e adolescentes. "É umacondição gravíssima porque, além deconfigurar um crime, impede o desenvolvimentointegral das vítimas, podendo causar traumas irreversíveis",afirmou.Para desenvolver apesquisa, foram entrevistados, entre agosto de 2007 e janeiro de 2008,representantes de 54 instituições que atuam em oito municípios daBaixada Fluminense na promoção dos direitos da criançae do adolescente. Entreeles, Conselheiros de Direitos, Conselheiros Tutelares e representantes deorganizações não-governamentais.