Mãe acha que filha de 17 anos que engravidou também está apta a trabalhar

12/06/2008 - 17h56

Mariana Jungmann
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Quando o Governo doDistrito Federal proibiu a entrada de crianças e adolescentesno lixão da Estrutural, cidade satélite situada a dezquilômetros de Brasília, Ivonete Maria de Jesus nãogostou.Mãe de setefilhos com idades entre 6 e 22 anos, ela vende lanches há trêsanos para os catadores do aterro, onde também játrabalhou coletando lixo. Com a proibição, ela diz queperdeu a ajuda de duas filhas adolescentes na barraca delanches.“Para mim foi horrível, porque as duasfilhas maiores de idade têm outro trabalho e as duasadolescentes me ajudavam”, comenta, garantindo que as criançasmenores nunca trabalharam. “Minha menina de 17 anos estágrávida. Se ela pôde engravidar, por que também não pode trabalhar?", indaga. "Vai ser mais uma boca para mim?"Adiretora-geral do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) do DistritoFederal, Fátima Có, conta que muitas mãesficaram revoltadas com a proibição. “Elas nãoaceitaram, algumas ameaçavam os funcionários”,lembra. Atualmente, a polícia faz seis rondas diárias,além de uma semanal que é realizada de surpresa, nos164 hectares do lixão para procurar crianças e evitardelitos entre os catadores.Segundo ela, mesmo coma lei permitindo que os jovens de 16 a 18 anos trabalhem, os 70adolescentes nessa faixa etária que catavam lixo látiveram que ser retirados porque o serviço é insalubre.Além da poeiraexcessiva, que causa problemas respiratórios e de pele, o lixoenterrado no local libera gás metano quando se decompõe.Catador há 26anos, Antônio Monteiro Soares Júnior conta o que senteao fim de um dia de trabalho. “Dá muita dor de cabeçae dor nos olhos por causa do gás. Aí, precisamos tomarleite para melhorar. Além disso, a secura atinge a garganta equem toma bebidas destiladas passa mal. Já vi muito catadorcuspindo sangue.”Os cerca de 1.500catadores do lixão da Estrutural são cadastrados e osque insistem em burlar a segurança e levar criançasrecebem primeiro uma advertência. Em caso de reincidência,eles são levados para a polícia, segundo a diretora doSLU.