Crianças e adolescentes que trabalham sofrem acidentes por falta de orientação

12/06/2008 - 6h30

Mariana Jungmann
Repórter da Agência Brasil
Brasília - No Brasil, de 5,1 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anosque estavam trabalhando em 2006,  2,9 milhões não receberam nenhum tipo deorientação ou treinamento para exercer a função. O dado é da Pesquisa Nacional porAmostras de Domicílio (Pnad). Com isso, foram registradas 273 mil crianças machucadas durante a semana em que a pesquisaocorreu. O gerente do Programa Internacional para Erradicação do TrabalhoInfantil da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Renato Mendes,diz que fora a conseqüência para a competitividade dessas crianças nofuturo, na hora de concorrer ao mercado de trabalho, sérios problemas serão gerados para a previdência social. “Se a capacidade produtiva dessa pessoa vai ser reduzida porque elaficou incapacitada pelo trabalho durante a infância, a previdência vaiter que cuidar dela. Hoje, nós temos muitas meninas que serão inférteis,muitas mulheres que terão problemas de coluna, muitas criançasmutiladas e que não vão produzir de forma adequada na vida adulta, eque a política pública vai ter que cuidar delas”, completa Mendes. A Região Nordeste é a que apresenta os piores índices, com 63,6%das crianças ocupadas trabalhando sem treinamento e 7,1% de acidentesque resultaram em machucados. Para efeito de comparação, o número de crianças e adolescentesnessa faixa etária trabalhando no Brasil corresponde a 11,5% do total.No Nordeste , esse percentual sobe para 14,4% e nos estados doMaranhão e do Piauí, a taxa passa de 17% do total de crianças eadolescentes no trabalho. “Especialmente no Maranhão, nós percebemos por meio dos dados daPnad, que 12% das crianças que trabalhavam naquele estado sofreramacidentes de trabalho. É uma taxa quatro vezes maior que a encontradaem adultos trabalhando”, aponta Renato Mendes. “Isso é muito preocupante num estado em que o desenvolvimentoeconômico ainda não atingiu sua maioridade, ainda depende de açõesextrativistas, da pecuária, da ação primária da produção”, acrescenta. Segundo ele, as atividades rurais e extrativistas são as que maisgeram acidentes quando a mão-de-obra é infantil. “No caso dasatividades extrativistas, temos duas conseqüênciasgravíssimas: crianças que perdem as mãos no extrativismo mineral – elasutilizam martelos mais pesados que sua capacidade muscular – e as queabsorvem amianto (substância altamente cancerígena) na produção dotalco. As crianças que trabalham com amianto têm vida média de 50 anosde idade”, diz o gerente da OIT.