Brasil tem mais de 3 milhões de hectares de terra em poder de estrangeiros

12/06/2008 - 6h47

Marco Antônio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Númerosdo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária(Incra) mostram que estrangeiros são donos de mais de 3,8 milhões de hectares de terra no Brasil. Somente em Mato Grosso, os investidores internacionais têmaproximadamente 754 mil hectares, divididos em 1.377 propriedadesrurais. Seguem na lista São Paulo e Mato Grosso do Sul,estados em que os estrangeiros têm, respectivamente, 504 mil e 423 mil hectares.Diantedo quadro, a Advocacia-Geral da União (AGU) já trabalhana elaboração de um parecer para limitar a compra deterras brasileiras por estrangeiros, como estratégia de defesada soberania do país. Alei federal existente é pouco restritiva e movimentos sociaisconsideram a concentração estrangeira inadmissívelem um país com demandas camponesas não atendidas. “Éum incoerência, uma injustiça e uma imoralidade. Como senão bastasse a concentração de terras nas mãosde poucos brasileiros, outra parte que poderia ser destinada àreforma agrária está com não-brasileiros”, criticou, em entrevista à Agência Brasil, o padre DirceuFumagalli, coordenador nacional da Comissão Pastoral daTerra (CPT). Favorávelao endurecimento da legislação, o padre Fumagalliavalia que a presença crescente de estrangeiros no meio ruralpode ter conseqüências mais graves na região amazônica.“A Amazônia, por estar no foco do embate da questãoambiental, tem uma propensão maior à ampliaçãode grandes territórios nas mãos de estrangeiros". Para ele, apreocupação é porque o primeiro impacto se dá sobre as comunidade tradicionais. Quemtambém defende providências imediatas do governo paraconter a ocupação de terras nacionais por estrangeirosé o deputado federal Anselmo de Jesus ( PT-RO), coordenador daFrente Parlamentar da Agricultura Familiar. “Temos que colocarregras mais duras, como existem em outros países, e isso temque ser para já”, afirmou o deputado. Naturalda Amazônia, o parlamentar diz que o governo e a sociedadebrasileira precisam se conscientizar da necessidade de atuarjuntos para proteger a região, superando um descaso histórico:“ Muitas vezes, a Amazônia não recebeu o tratamentodevido e agora temos que sair batendo no peito para dizer que ela énossa. Precisamos de políticas mais voltadas para atender asnecessidades de quem vive na região e assim ela ficaráprotegida”. Ementrevista ao programa Diálogo Brasil, da TV Brasil, o diretorde Cursos Corporativos da Fundação GetulioVargas, Antônio Porto Gonçalves, argumentou que apresença de estrangeiros como proprietários de terras não é o maior problema fundiário do país:“O estrangeiro pode ser dono de terra, mas está sujeito àsleis brasileiras. As autoridades podem entrar lá. Serestrangeiro não é crucial. O importante é nãoter o monopólio, o poder de mercado. O latifúndio é queé prejudicial, porque cria um poder local indevido eantidemocrático”.