Ana Luiza Zenker
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Um banco sem banqueiros, do qual a própria comunidade é proprietária, “se organiza, cria seus mecanismos econômicos, investindo na produção e no consumo local e tendo ali alternativas viáveis a partir dos pobres”. É assim que João Joaquim de Melo, criador do Banco Palmas, no Ceará, descreve como deve ser o banco do futuro.Há dez anos, João Joaquim criou o Banco Comunitário, voltado para a inclusão social e a economia solidária. Hoje, já são 31 unidades, cada uma em um município diferente, e gerando 3 mil postos de trabalho. Todas, porém, com o mesmo conceito: “Os pobres são portadores de solução, eles podem organizar as suas próprias finanças, estimular poupança, estimular consumo e produção local”, explicou João Joaquim.A grande diferença em relação às instituições tradicionais é que o Banco Comunitário não visa exclusivamente ao lucro e sim ao desenvolvimento social de uma localidade. “Esses bancos objetivam a sustentabilidade da comunidade, a sustentabilidade do planeta. As pessoas que estão não estão focadas apenas no lucro e sim colocando o ser humano como centro”, disse ele. Para oferecer microcrédito a pessoas pobres, esse tipo de banco trabalha em parcerias, inclusive com outras instituições financeiras. “Hoje o nosso principal parceiro de financiamento é o Banco do Brasil, que alimenta crédito a juros baratos, para a gente poder colocar na comunidade e fazer o desenvolvimento local.”João Joaquim se inspirou numa expriência iniciada em Bagladesh, pelo Prêmio Nobel da Paz 2006, Mohammad Yunus, criador do Banco Grameen. Convidado do 1º Fórum Internacional de Comunicação e Sustentabilidade, que termina hoje (12) em Brasília, Yunus explicou que o Grameen começou em uma vila, oferecendo serviços financeiros para pessoas que não conseguiam empréstimos em bancos convencionais.Ele contou que, no início, para conseguir crédito, ele mesmo assinava muitos empréstimos como fiador. Isso tudo para conseguir dar crédito para que as pessoas pudessem montar o seu próprio negócio e mudar de vida."Como fazer isso? Você olha os bancos convencionais, aprende como eles fazem, e faz o contrário”, disse Yunus. Segundo ele, o sistema do Grameen é muito simples: crédito sem juros, sem necessidade de garantias, sem advogados, focado em pessoas simples, de forma que elas se sintam à vontade.Hoje, a maior parte do público é de mulheres. “Elas se sentem confortáveis, podem iniciar seu próprio negócio, ter renda, mudar a situação da família e mandar seus filhos para a escola.”Para Yunus, “pobreza não é criada pelas pessoas pobres, mas por fatores externos”, é criada pelo sistema econômico, pelas políticas, por conceitos estabelecidos de negócios. Por isso ele diz que um dos segredos para fazer com que as pessoas saiam da pobreza, por meio de um negócio seu, é dar uma chance, apostar nelas. “Nós não olhamos as suas posses, nós olhamos para as suas oportunidades e o seu potencial, não olhamos para o seu passado, mas para o seu futuro”, concluiu.