Priscilla Mazenotti
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A ex-diretora daAgência Nacional de Aviação Civil (Anac) DeniseAbreu admitiu hoje (11) que foi expressamente questionada pela ministra-chefeda Casa Civil, Dilma Rousseff, e pela secretária executivaErenice Guerra sobre as exigências que fez para a venda daVarig e da VarigLog. Denise ainda se colocou à disposiçãopara participar de uma acareação com os outros envolvidos no caso a fim de comprovar a veracidade das informações.Entre as exigênciasfeitas por Denise para a consolidação do negócioestava a declaração de Imposto de Renda dos sóciosbrasileiros do fundo americano Matlin Patterson, empresa que comproua Varig. Os documentos pedidos, segundo Denise, eram fundamentaispara comprovar a origem do capital da empresa, já que alegislação brasileira proíbe a participaçãode estrangeiros acima de 20% no capital de empresas aéreasbrasileiras."Nessa reuniãome foi dito que eu estava extrapolando, porque a lei não eraclara. E que Imposto de Renda no país nem sempre demonstrava oque efetivamente um determinado cidadão tinha em suacapacidade financeira pessoal e que o Banco Central também nãoprecisava expedir essa entrada de dinheiro oficial uma vez quepoderia existir um contrato de gaveta que solucionasse o problema",disse à Comissão de Infra-Estrutura do Senado, hoje(11), durante depoimento."A pressãoera exercida sobre a área de documentação paraque toda a documentação apresentada pelo TeixeiraMartins [advogado que intermediou a operação devenda] fosse agilizada, como se a Anac não tivesse mais oque fazer", disse.Segundo Denise, uma dasformas de pressão foi a instauração de umprocesso no Ministério da Defesa contra ela sob a alegaçãode que estava fazendo lobby em favor da TAM na Anac. Denisedeixou claro que estava fazendo – a pedido da própria DilmaRousseff – um plano de contingenciamento para realocar ospassageiros da Varig caso a falência dela se concretizasse paraaqueles dias.Essa reunião,segundo Denise, aconteceu em 2006 na Casa Civil. "Fomos chamadospela Dilma e a Erenice estava presente. Nos foi dito que a Varig iriaquebrar, afinal de contas, existia uma dívida de R$ 7 bilhões.Recebemos a orientação de elaborarmos no mês deabril de 2006 um plano de contingência para atender ospassageiros que ficariam desassistidos com a quebra da Varig. ",disse.Segundo ela, na época,a TAM era a única empresa com equipamento suficiente paratransportar os passageiros da Varig em vôos internacionais enos vôos nacionais, haveria rateio das linhas entre TAM e Gol. "Evidente quetodos ficaram estarrecidos. Até então, nãoconseguíamos entender o porquê da mudança dedecisão governamental", disse.Denise Abreu afirmouque, na época da compra da Varig, a VoLo mudou a composiçãoacionária para participar do leilão. Essa empresa seriaformada por 99% da VarigLog e 1% da VoLo. "Não entendi oporquê. Será que era por conta do capital estrangeiro?",questionouDenise ainda estranhouque a empresa, comprada por US$ 20 milhões, fosse vendida oitomeses depois para a Gol por US$ 350 milhões. "Nósdizemos que essa empresa não vai voar. Tudo isso foiorquestrado para que ela fosse vendida. Essa empresa, em menos detrês meses, foi repassada à outra. A aquisiçãoda Varig pela Gol, nós só soubemos pela internet.Depois disso, fui ao Ministério Púbico Federal. Elesqueriam saber por que não foi comprada por US$ 24 milhõese oito meses depois foi comprada por US$ 350 milhões pela Gol.E do mesmo jeito, com 15 aviões e as mesmas rotas",disse.