Danilo Macedo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Desde2005, o governo federal construiu apenas uma escola na zona ruralbrasileira. Além disso, algumas unidades foram fechadas pelasprefeituras municipais, aumentando o déficit de 500 escolas nocampo. A afirmação é daintegrante da Coordenação Nacional do Movimento dosTrabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Marina dos Santos. “Das500 escolas que foram assumidas pelo governo federal, peloMinistério da Educação [MEC], pelo Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária], nasparcerias, foi construída apenas uma, no estado do Piauí,de 2005 até agora. E ainda foram fechadas algumas.”Segundoa coordenadora do MEC para Educação no Campo, SaraLima, a partir de 2005 foram liberados recursos para a construçãode 50 escolas, mas alguns problemas impossibilitaram que elas fossemfinalizadas. Segundo Sara, este ano o governo federal vailiberar R$ 200 milhões para a construção eaparelhamento de 229 escolas. Muitosprefeitos fecharam escolas na zona rural, nos últimos anos,alegando que é mais barato transportar os alunos das fazendaspara a cidade do que manter salas de aula com professor no campo. Sara,no entanto, diz que um estudo do MEC que ainda não foidivulgado mostra o contrário. “A crise nos transportes temcomprovado que a escola no campo sai mais barato e o MEC estátrabalhando com as prefeituras para mostrar isso.” No anopassado, somente o governo federal gastou cerca de R$ 270 milhões com o Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar (Pnate), quevisa a atender alunos moradores da zona rural. Para cada estudante transportado, o governo gasta entre R$ 81 e R$ 116,32, conforme asnecessidades do município. Acoordenadora do Programa Nacional de Educação daReforma Agrária (Pronera), Clarisse dos Santos, que édo Incra, avalia que o raciocínio dos prefeitos que fechamescolas no campo é imediatista e apenas econômico, sem pensar no impacto social. “Ele não leva em conta o impactoque isso tem sobre o próprio aprendizado das crianças.As crianças saem de casa às 4h e voltam às 16h,às vezes sem almoço. É uma desumanidade.”ParaMarina dos Santos, além dos horários, “isso trazmuitos problemas, porque as crianças não estudam a suarealidade do campo, que é diferente da realidade da cidade”.Ela considera que esse é um reflexo da lentidão doestado, que “enterra” toda a construção de escolasno meio rural.“Oprocesso de luta pela terra, da conquista da terra, da conquista dosdireitos da pessoa, está diretamente ligado ao processo daeducação”, ressalta Marina, mostrando a importânciaque essas escolas representam para o MST. Segundo Clarisse,coordenadora do Pronera, o último levantamento feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)constatou que 30% dos moradores da zona rural brasileira sãoanalfabetos, índice que cai para 24% nos assentamentos.