Lourenço Canuto
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O professor de Economia da Unicamp, Luiz Gonzaga Belluzzo,ex-secretário Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda,vê acerto nas medidas que o governo tomou para controlar a inflação,mas defende também a redução na velocidade daexpansão do crédito, sobretudo na área de bens duráveis, como a deautomóveis. Belluzzo concedeu entrevista hoje (5) ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional.Para ele, a política fiscal deve ser mais agressiva para controlar a escalada de preços. A elevação em 0,5% na meta do Superavit Primário (de 3,8% para 4,3%) e o retorno do reajuste da taxa básica de juros anual (a Selic),segundo Belluzzo, foram decisões tomadas "com acerto e rapidez" para controlar a inflação. Mas o economista reconhece que "nenhuma medida napolítica econômica ocorre sem efeitos colaterais". Dentre os efeitos considerados indesejáveis por ele está a possibilidade de valorização excessiva doreal, provocando queda ainda maior no dólar, o que agravaria o déficitcomercial do país e afetaria a conta de transações correntes. Ele sugeriu o uso da política fiscal como instrumento no controle da inflação e como opção para conter a valorização do real.Belluzzo destacou que a elevação na taxa de juros pode mexer com ofluxo de capitais, causando muitos danos para empresas e para o balançode pagamentos e, para ele, isso tem que ser evitado. Masele constata que não é fácil executar esse conjunto de medidas de maneiraharmônica, ponderando que é preciso pensar bem antes de usar apenas uminstrumento para controlar a inflação.Para o economista, oBanco Central pode ter planejado a elevação gradual da Selic em 1,5%,jogando com os aumentos até os índices de inflação ficarem dentro dameta traçada pelo Governo (4,5% em 2008). "Apesar da inflação estardando sinais que requerem providências, a situação brasileira é maisconfortável que a de outros países emergentes, onde tem chegado a até8% ao ano, por causa de choques de oferta", observou. Belluzzo afirmou que a situação dopaís hoje está muito mais favorável do que esteve há anos passados. "Temos uma situação externa muito equilibrada, com reservas elevadas,mas elas são apenas, em parte, reais, já que há um percentual compostode ingresso de capitais, através de contas de investimento", explicou.O próprioinvestidor externo, conforme Belluzzo, pode ter um otimismo "míope" nasituação, "dentro de uma perspectiva otimista, que, às vezes, podereverter rapidamente". "É preciso ver o passado, quando o Brasil tevereversão abrupta de sua conta corrente com o exterior, em decorrênciade desvalorização brutal da moeda nacional", advertiu. Ele citou o crescimento do emprego formal como um bom indicador da economia e registrou que, a fase de estagnação da economia, no passado, provocou defasagem na especialização de trabalhadores. Um exemplo, citado pelo economista, é a escassez de mão-de-obra na construção civil e em outrasáreas, onde faltam técnicos e engenheiros. "O país esteve durantemuito tempo com baixo crescimento e sem fazer investimentos e issoinfluenciou de maneira importante a escolha de carreiras pelos jovens", disse. Muitas profissões foram abandonadas porque as oportunidades eramescassas, segundo Belluzzo. "Isso estabelece uma relação negativa entre a aceleração docrescimento e a capacidade de resposta da economia, inclusive domercado de trabalho", ponderou. Os salários, de acordo com o economista, tiveram boa melhora no país e o consumo dasclasses C e D se ampliou e se diversificou. Ele considera que "foi um grande erro a supressão da cobrançada Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira [CPMF] dadaa importância dos recursos para melhorar a qualidade do sistema desaúde brasileiro, que é um dos mais amplos do terceiro mundo". Belluzzo considera o Sistema Único de Saúde (SUS) "um bom resultado daConstituição de 1988". "Tem uma concepção muito correta e precisa demais recursos para atender às novas necessidades da saúde, a fim de queo país possa acompanhar as novas tecnologias que surgem e tenhacondições de universalizar a prestação de serviços", apontou. Ele ressaltou que a contribuição, na sua análise, erauma forma segura para monitorar a sonegação.