Marco Antônio Soalheiro
Enviado especial
Boa Vista - O senador AugustoBotelho (PT-RR), descendente indígena de 60 anos, é oautor de uma das ações que contestam no SupremoTribunal Federal (STF) a demarcação da Terra IndígenaRaposa Serra do Sol em área contínua, com julgamentoprevisto para as próximas semanas. Ele se diz convicto de queestá em jogo na disputa pela terra algo além dedireitos antropológicos. “Eu afirmo e provo que todas asreservas indígenas em Roraima foram feitas sempre em cima deprovíncia mineral de cassiterita, ouro ou diamante. E, para mim,existe uma intenção velada de retirar parte do Brasilda gente, de mudar a mentalidade das pessoas para se formar uma naçãoindígena, que criaria um Kosovo aqui dentro”, diz Botelho.“Se for andar por aí, vamos ver casas abandonadas como sefossem aldeias”, acrescenta. Segundo o parlamentar,sua ação no STF foi ajuizada por entender que adestinação da área aos índios pelogoverno federal foi feita sem consulta ampla às liderançase à sociedade de Roraima: “Decisão feita porburocrata e antropólogo não é uma formademocrática. Existem dúvidas quanto à lisura dolaudo [antropológico, em que se baseou a demarcação dareserva]”. Ele afirmou que conversa sobre o assunto com abancada do partido – que não teria posiçãodefinida - e que já externou sua opinião tambémem reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Ele (Lula) nãotoma uma decisão dessa sozinho”.. A políticaindigenista do governo brasileiro é considerada historicamentefalha por Botelho, que também é médico e vêriscos à própria saúde dos índios:“Definem a área e depois abandonam os indígenas. EmSão Marcos [reserva vizinha à Raposa Serra do Sol],vivem de descaminho de gasolina da Venezuela. Temo que passem emalgum momento, por necessidade, a plantar drogas”.Mais de uma vez,durantea entrevista, o senador diz que é favorável a que os índiostenham suas terras, mas que isso deve ser feito preservando o direito deoutros roraimenses ao trabalho. Ele explica aquela que,na sua visão, seria a solução mais adequadapara o impasse na Raposa: “Manter as vilas, deixar estradas fora,permitir que as pessoas trabalhem na área, como o entãoministro da Justiça Nelson Jobim tinha proposto. E o governotambém precisa dar mais assistência para melhorar aqualidade de vida dos indígenas”. O senador rejeita ascríticas de índios favoráveis àdemarcação contínua de que os políticosdo estado, de forma geral, têm preconceito contra as comunidades:“Fazem esse discurso sempre, mas já coloquei emendaparlamentar para beneficiar indígenas com projeto agropecuário e, por causa deles, foi uma burocracia poder ajudar”. Sobre a atuaçãono estado do líder dos arrozeiros Paulo CésarQuartiero - preso em Brasília e cotado em Roraima como futurocandidato a senador ou governador – Botelho é econômicona avaliação: “O mérito do Paulo Césaré desenvolver a cultura do arroz irrigado. Ele estádefendendo o lado dele”.