Alana Gandra e Ivanir José Bortot
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - O fundo soberano doTesouro Nacional, anunciado pelo governo nesta semana, terá opapel de induzir a ampliação dos investimentos dasempresas nacionais no exterior, e não o de incentivar asexportações com financiamento. A afirmaçãoé do diretor da Área Financeira do Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico e Social (BNDES), MaurícioBorges Lemos.Em entrevista àAgência Brasil, Lemos informou que o banco,tradicionalmente, apóia a internacionalização deempresas brasileiras com recursos próprios e realiza operaçõesde financiamento às exportações, mas tambémtem programas de apoio com recursos externos, como o Fundo de Amparoao Trabalhador (FAT). Segundo ele, as operações atuais doBNDES de apoio às exportações tem envolvidorecursos da ordem de US$ 2 bilhões. A diferença éque o fundo soberano terá captação e empréstimoem moeda estrangeira, a um custo mais baixo do que o atual e podeatingir o montante de US$ 20 bilhões. O fundo funcionariainteiramente no exterior, de preferência em um paraísofiscal, para diminuir custos. “O melhor lugar é um paraísofiscal [zona sem impostos ou com impostos baixos, no jargãoeconômico, também conhecida como Tax Heaven], onde ocusto tributário seja mínimo. Ele [o escritório]captaria recursos e, nessa captação, poderia estar aaplicação de recursos do Tesouro em dólar”,disse Lemos, referindo-se ao país onde a operaçãofinanceira será constituída. Borges Lemos disse queo banco vai abrir um escritório em agosto, provavelmente emMontevidéu, no Uruguai, com possibilidades de se transformarposteriormente em filial, ou subsidiária. "Vai ser maisum posto avançado para as nossas operaçõespós-embarque que serão decididas no Brasil",disse. Ele explicou que a escolha do Uruguai deve-se aobaixo custo tributário e à proximidade do paíscom o Brasil, que ajuda na viabilização dos projetos deintegração na América do Sul. O escritóriopoderá ainda ajudar nas operações de apoio àsempresas brasileiras em outros mercados internacionais. O fundo soberano vailastrear as operações de empréstimos em dólardo BNDES no exterior, para financiar empresários brasileirosque tenham projetos de expansão de suas atividades no mercadoexterno. O custo dos empréstimos será mais baixo do queo atual e os prazos, mais longos. Na avaliação deLemos, a operação será positiva para o TesouroNacional, na medida em que vai melhorar a rentabilidade das reservasinternacionais com garantias ainda melhores do que as atuais. "Uma empresanacional que se torna competitiva no exterior pode trazer tecnologiae, inclusive, produzir essa tecnologia no país. Ao fazer isso,ela tem chances de contratar criação de tecnologianacional em segmentos como gestão e inovação",afirmou o diretor do BNDES.Lemos considera mais provável setorestradicionais da economia brasileira serem o ponto de partida doprocesso. Prospecção preliminar realizada pelo BNDESindica a existência de muitas empresas brasileiras no cenárioestrangeiro, sobretudo nos setores alimentício, de mineração,de petróleo e de energia, além de empreiteiras daconstrução civil pesada, empresas de máquinas eequipamentos, e ainda nichos diferenciados, como os de moda econfecções.O diretor do BNDESdisse que o custo do funding (recursos de capital parafinanciamento de empresas) será equivalente ao custo atual doTesouro norte-americano, que é de cerca de 3% ao ano. Elelembrou que os juros básicos nos Estados Unidos somam 2% aoano. “O custo para as empresas brasileiras poderá tambémser reduzido.”As operações que vierem a serefetuadas por intermédio do fundo soberano poderãotornar o BNDES acionista de grandes empresas, o que representaráuma expansão de valor da carteira de sua subsidiária, aBNDES Participações (BNDESPar). “Seria mais uma etapano papel do banco enquanto sócio de empresas que começam,às vezes, de baixo e se tornam grandes depois”, afirmouLemos.