Paula Laboissière*
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os índices deacidentes de trabalho no Brasil têm caído, mas não o suficiente para colocar o país em um patamar acima do ocupado por vizinhos na América Latina. A avaliação édo representante do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura eAgronomia (Confea) e diretor técnico da Sociedade Brasileirade Engenharia de Segurança, Jaques Sherique.“Melhoramos, mas nãomelhoramos o suficiente. Algumas vezes temos mais acidentes do que amédia dos países da América Latina. Nãoestou nem comparando com países já desenvolvidos”,disse, em entrevista à Rádio Nacional.Dados do Ministériodo Trabalho e Emprego (MTE) apontam que, em 2006, 537.457 acidentesde trabalho foram registrados no Brasil, com um total de 2.717 mortes e 8.383 trabalhadores incapacitados. Quando comparados aos índicesde 2005, os números revelam uma diferença de 8.246acidentes de trabalho a menos, além de uma reduçãode 49 mortes e 5.988 trabalhadores incapacitados. As informações fazem parte do Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho. Apesar da queda nos números, o ministério ainda classifica o índice deacidentes e mortes decorrentes do trabalho no Brasil como relevante. No Dia Mundial em Memória às Vítimasde Acidentes de Trabalho – lembrado hoje (28) – , Sherique diz quea subnotificação de doenças ocupacionais nopassado comprometia os levantamentos dos casos.Ele lembra que, em2007, os casos de doenças ocupacionais cresceram de formaelevada. “Desconfiávamos e agora temos certeza de que essasdoenças eram subnotificadas”. O diretor explica que uma novametodologia adotada pelo Ministério da PrevidênciaSocial – que inclui no registro dos acidentes de trabalho asdoenças ocupacionais – provocou o acréscimo nosnúmeros.O setor da construçãocivil, segundo ele, aparece, no passado, como o “grande vilão”na prevenção de acidentes de trabalho. Na atualidade,entretanto, a área de serviços assumiu a posição.“Principalmente microe pequenas empresas, porque os registros mais comuns encontrados naPrevidência Social são relacionados às doençasde Lesão por Esforço Repetitivo (LER) e DistúrbiosOsteomoleculares Relacionados ao Trabalho (Dort), ocasionadas porposto de trabalho inadequado.”
O segundocolocado no ranking de acidentes de trabalho é aindústria de alimentos. Sherique ressalta que o perfil dasdoenças do trabalho tem mudado conforme o avanço dastecnologias e que os principais registros do passado, ligados aomanuseio do chumbo, do algodão e de minerais, hoje dãolugar aos problemas relacionados à ergonomia.
“Omaior número de registros está ligado a doençascom o uso do aparelho esquelético, quando o trabalhador éobrigado a ter um esforço muito grande.”O MTE alerta que osnúmeros oficiais relacionados à acidentes de trabalhonão representam a realidade brasileira, devido àexistência de empregos informais e de empresas nãonotificadas que atuam no país. Ao todo, 849.795situações irregulares relacionadas à segurançae saúde no trabalho foram corrigidas pelo órgãoem 2007 – 80.964 a mais que no ano anterior. Desse total, o setorde construção civil respondeu por 242.427 casos, seguido pelaindústria, com 204.417, e pelo comércio, com 165.331.