Representantes da sociedade civil recebem com frustração documento final da 12ª Unctad

24/04/2008 - 17h55

Mylena Fiori
Enviada especial
Acra (Gana) - Representantes dasociedade civil receberam com certa frustração orascunho do documento final da 12ª Unctad – Conferênciadas Nações Unidas sobre Comércio eDesenvolvimento, que se encerra nesta sexta-feira (25), na cidadeafricana de Acra, em Gana. O documento, ainda não divulgadopara a imprensa, circulou na noite de ontem (23) entre alguns dosmovimentos sociais e organizações não-governamentaisque participam da conferência.Segundo Amade Sucá,coordenador para a Área de Alimentação na Áfricada Action Aid (ONG que trabalha para vencer a pobreza), a únicademanda da sociedade civil atendida no documento refere-se a umposicionamento objetivo quanto a inflação dascommodities e a má distribuição dos lucros. "Há umreconhecimento de que existe uma subida galopante de preços aoconsumidor e de que o preço de compra do produtor ébastante baixo. Esse aspecto, que é a razão fundamentalde nossa presença aqui, está claramente estabelecido nodocumento", antecipou Sucá à Agencia Brasil.A Unctad evitará,no entanto, firmar posição quanto a regulaçãoda atuação das multinacionais - outra demanda dasociedade civil organizada, segundo Sucá. Um dos consensos doFórum da Sociedade Civil é o entendimento de que acrise mundial de alimentos não se deve à insuficiênciade produção, mas ao livre mercado. "Já vimosque não funciona deixar que a lei do mercado regule a lei daoferta e da procura. São necessários mecanismos denível internacional para regulamentar o poder dasmultinacionais", defendeu o representante da Action Aid. Ele explicou que asmultinacionais, por terem o monopólio, acabam ditando o preçoda compra das mercadorias, e compram dos produtores a valores baixos.Como detêm a produção, comercializam quandoquerem. "Inflacionam opreço por meio da especulação. Nesse processotodo, o camponês é quem perde, pois vende a preçobaixo a sua mercadoria. Depois de processada [a mercadoria],ela é vendida no mercado a preço alto e ele nãopode comprar. Quem se beneficia desse processo todo são asmultinacionais", reiterou Amade Sucá. Dificilmente o temaainda será incluído no documento final da 12ªUnctad, disse.Outra questãoque não será contemplada, segundo Sucá, éa proposta do G77 - apoiada pelos movimentos sociais - de criaçãode uma comissão para a globalização na Unctad. Aproposta não foi aprovada por resistência dos EstadosUnidos e da União Européia.Os representantes dasociedade civil também esperavam um posicionamento incisivo daUnctad quanto ao cumprimento, pelos países ricos, docompromisso de alocação de 0,7% do Produto InternoBruto (PIB) em um fundo para a diversificação daeconomia dos países subdesenvolvidos, de forma que nãodependam de um único produto. Segundo Amade Sacú,42 países africanos dependem de apenas uma mercadoria - café,banana, petróleo, etc. "Quando háoscilação do preço dessas mercadorias, isso temum impacto direto na renda destes países", ressaltou. "Éimportante que se crie um fundo e que os países desenvolvidoscoloquem à disposição recursos financeiros paraque os países pobres possam de fato, em momentos como este que vivemos,acionar estes fundos, revitalizar seu setor produtivo e evitar estacalamidade", defendeu.O documento final da12ª Unctad será votado no final da tarde destasexta-feira, em cerimônia de encerramento da conferência.