Para especialista, criação de Conselho Sul-Americano de Defesa é decisão precipitada

24/04/2008 - 18h50

Alex Rodrigues*
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O pesquisador Eliezer Rizzo de Oliveira, do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), considera desnecessária e precipitada a criação do Conselho Sul-Americano de Defesa, proposta pelo governo brasileiro.

Na semana passada, ao discutir a proposta com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirmou que o objetivo do conselho não é integrar as operações militares dos diferentes países, mas sim atuar na prevenção de conflitos e promover uma estrutura industrial de Defesa que envolva os vários países.

"Para esses dois objetivos, um conselho seria demais. Pode ser que o ministro esteja consultando os colegas de outros países e levantando outros objetivos, mas a primeira questão é que são poucos os objetivos definidos até agora”, afirmou Rizzo.

O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva já declarou que o conselho serviria para intermediar conflitos regionais, como a recente invasão do território equatoriano por tropas colombianas. Segundo Rizzo, no entanto, já existem instâncias nacionais e internacionais responsáveis por mediar possíveis conflitos, como a Organização dos Estados Americanos (OEA).

Para o pesquisador, a proposta brasileira vai de encontro à ênfase do governo federal na integração da América do Sul. Ele lembrou que o presidente Lula também já manifestou em mais de uma ocasião que o Brasil, maior economia do continente, tem de contribuir para o desenvolvimento de outros países. “Provavelmente, a iniciativa diz respeito a uma visão que o presidente tem, uma idéia de que é possível atuar em unidade perante o mundo”, disse.

A tese de Rizzo encontra sustentação na declaração dada ontem (23) por Jobim, ao explicar os acordos de cooperação em Defesa assinados nesta semana com os governos da Guiana e do Suriname. “O Brasil é um país grande e, sendo assim, precisa compreender os países pequenos”, disse Jobim, ao explicar por que nada pediu ao se comprometer a doar armas e equipamentos militares aos dois países.

“A minha pergunta é quais são os temas específicos e a necessidades para um conselho de segurança da América do Sul? Ainda não se sabe o que o governo brasileiro quer da criação desse conselho, quais os objetivos e se os conselheiros serão civis, embaixadores, militares ou ministros”, comentou. Quando esteve na Venezuela, Jobim também descartou já ter definições sobre o funcionamento do novo organismo, o que, afirmou, será estabelecido a partir do diálogo entre os vários países da região. “As experiências históricas mostram que a política externa comum e uma cooperação na direção de uma Defesa integrada vêm depois da construção de instituições econômicas e políticas, numa espécie de confederação, como é o caso da União Européia. Nós não temos nada disso na América do Sul. O que temos são pactos sub-regionais", disse Rizzo.