Mylena Fiori
Enviada Especial
Acra (Gana) - Apesar da resistência em comercializar produtos agrícolas com países em desenvolvimento, os europeus reconhecem os benefícios que a atual rodada de negociações da Organização Mundial do Comércio pode trazer para o Sul do planeta. E sabem qual o caminho para isso. Em painel sobre o novo perfil do mercado de commodities, hoje (23), em Acra, capital ganense, John Clarke, chefe da delegação da Comissão Européia, na 12ª Unctad, reconheceu a necessidade de redução ou eliminação das tarifas de importação de produtos agrícolas - um dos temas centrais da Rodada Doha. "Neste campo, há que se encontrar um equilíbrio entre os interesses dos exportadores competitivos de produtos básicos e os países que dependem das preferências tradicionais", ponderou. Clarke também frisou a necessidade de redução ou eliminação do apoio financeiro concedido pelos países ricos aos seus agricultores - o que provoca distorções no comércio agrícola. O fim dos subsídios à exportação e a redução dos auxílios domésticos também estão no centro da rodada. "Isso aparece na ordem do dia da rodada e esperamos um resultado ambicioso, reduzindo estas distorções, inclusive em matéria de algodão", afirmou o europeu. Mas Clark não falou apenas das demandas do mundo em desenvolvimento. Em discurso, defendeu o aumento da capacidade exportadora dos países dependentes de produtos básicos e ressaltou a importância da abertura do setor de serviços - uma das barganhas dos países ricos para abrir seus mercados agrícolas. "Os países dependentes de produtos básicos tem de melhorar seu desempenho, sua capacidade, seu potencial de exportação, devem diversificar a produção. Um requisito prévio é uma economia de serviços eficiente e moderna", argumentou. "Temos esperança de que, na Rodada Doha, possamos ver uma maior liberalização destes serviços de infra-estrutura – chave para o desenvolvimento –, como os serviços financeiros, comunicações, logística, carga", completou. Por fim, ponderou a necessidade de a Rodada Doha simplificar os procedimentos aduaneiros e reduzir as tensões das barreiras entre os países de litoral e de trânsito. "Tais medidas terão efeito muito positivo para os países produtores e exportadores de produtos básicos", ressaltou.