Débora Xavier
Repórter da Agência Brasil
Brasília - As evidências de que a associação de álcool e direção é perigosa são suficientes para fundamentar a posição do Ministério da Saúde em defesa de uma legislação mais rígida em relação às propagandas de bebidas alcoólicas nas emissoras de televisão do país.A opinião é da coordenadora de Vigilância de Doenças e Agravos Não-Transmissíveis do Ministério da Saúde, Débora Malta. A pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), coordenada por ela, interrogou 54.251 pessoas em todas as capitais brasileiras. O estudo apontou que 2% dos entrevistados dirigem após ter ingerido de quatro a cinco doses de álcool.Segundo a coordenadora, a projeção desse percentual, com base no número de motoristas em todo o país registrados no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indica que 290 mil pessoas dirigem alcoolizadas diariamente nas ruas e estradas do país.De acordo com ela, o principal objetivo da pesquisa é sustentar políticas públicas de saúde. O outro é embasar a busca pelo aprimoramento da legislação. “Fazendo um paralelo com o tabagismo, indagamos se não é significativo que em dez anos tenhamos conseguido diminuir o uso do tabaco de 33% para 16%. Caiu quase pela metade”, argumentou. Débora Malta apontou a proibição de propagandas de cigarro na televisão como o principal fator para a diminuição do hábito de fumar no país. “Houve um processo de proibição do governo, de coibir a propaganda nos meios de comunicação e nos espaços públicos. E as carteiras de cigarro trazem mensagem muito clara da nocividade do hábito de fumar. Tudo isso se deve a mudanças em nossa legislação”, ponderou.Com a proibição da propaganda, o cigarro deixou de ter um apelo tão forte, tanto para os adultos, quanto para a juventude, destacou a coordenadora. “Eu acho que o álcool tem que passar pelo mesmo processo. Uma legislação mais dura, já que nesse campo as nossas leis são bastante falhas, permitindo que bebidas com menor teor alcoólico, como as cervejas, sejam as maiores anunciantes do horário nobre das emissoras de televisão do país. E, com isso, a tendência é que a população consuma uma quantidade maior dessa bebida, e acabe se embriagando tanto como se tivesse [consumido] bebida destilada, por exemplo.”