Povos da floresta pedem reconhecimento público pela preservação ambiental

03/04/2008 - 8h34

Amanda Mota
Repórter da Agência Brasil
Manaus - Um reconhecimento público pela manutenção das florestastropicais é o desejo de 31 representantes de povos indígenas e depopulações tradicionais de dez países (Brasil,Colômbia, Costa Rica, Guiana, Guiana Francesa, Paraguai, Nicarágua,Venezuela, Suriname e Panamá). Nesta semana, em Manaus, eles pediram que o poder público considere suas contribuições para a preservação das áreas de floresta onde vivem.O grupo integra o conjunto de participantes do workshopLatino-Americano Mudanças Climáticas e Povos da Floresta que, até amanhã (4), deverá consolidar as propostas para compor documento que reúna o posicionamento comum desses povos a respeito dosmecanismos de compensação por redução de desmatamento. Essas propostas deverãointegrar as novas regras da Convenção do Clima após 2012.O evento é promovido pela Aliança dos Povos da Floresta - associação criada em 1989 e que reúne o Conselho Nacional de Seringueiros (CNS), a Coordenação dasOrganizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e o Grupo deTrabalho Amazônico (GTA). Além dos dez países, participam do evento 25 convidados, incluindo membros do FórumPermanente das Nações Unidas para Questões Indígenas e representantesda  África e da Ásia.De acordo com o presidente do CNS, Manoel Cunha, o impacto dasmudanças climáticas na vida dos povos indígenas e das populaçõestradicionais se apresenta como uma das maiores preocupações da Aliançados Povos da Floresta. Ele ressalta que, no evento, a idéia égarantir voz ativa nos debates sobre clima e desmatamento e, alémdisso, estimular os negócios de crédito de carbono entre os países.Para o líder do CNS, as populações tradicionais da floresta devem serincluídas na repartição dos benefícios oriundos de fundos ou créditosde carbono."Queremos discutir propostas de combate ao desmatamento semesquecer de uma recompensa devida às populações tradicionais dasflorestas pelos serviços ambientais que prestam à humanidade. É precisovalorizar as florestas. Na hora em que isso acontecer, seja com pagamentopor serviços ambientais, seja com agregação de valor aos produtosproduzidos nessa região, não haverá dúvidas quanto à importância dapreservação", destaca Cunha, lembrando que, em menor escala, o programaamazonense Bolsa Floresta reflete um pouco os anseios apresentados.O programa beneficia famílias quecontribuem para a preservação ambiental nasunidades de conservação do Amazonas. "OBolsa Floresta é um bom exemplo a ser contado. Devemos pensar em algonesse sentido, mas com maior amplitude", complementou Cunha.Para o coordenador da Coiab, Jecinaldo Cabral, o reconhecimentodeve vir em forma de políticas públicas que garantam preparo dos povosindígenas e tradicionais da floresta quanto às suas relações com o meioambiente e também como proteção e respeito a essas populações. "O quenós queremos é trabalhar grandes alianças, começando pelos povos dafloresta. Isso será fundamental para o que estou chamando de umarevolução para salvar as florestas tropicais", disse o representanteindígena.O coordenador científico do Instituto de Pesquisa Ambiental daAmazônia (Ipam), Paulo Moutinho, explicou que o documento final doencontro será apresentado em junho, na Convenção do Clima, na Alemanha,onde também devem ser discutidas políticas públicas e incentivos pararedução das emissões por desmatamento e degradação florestal em paísesem desenvolvimento. Na sua avaliação, até mesmo pelo modo de vida, ospovos tradicionais das áreas de floresta têm um papel fundamental nasdiscussões sobre mudanças climáticas porque acabam preservando estoquesde carbono que, se influenciados pelo desmatamento, iriam provocaremissões de gases de efeito estufa que agravariam a mudança do clima."A idéia é fazer um documento latino-americano de povos da florestapara começar a traçar as principais bases ou consensos para que elespossam iniciar um diálogo mais qualificado no âmbito da Convenção do Clima, ou ainda com o governo brasileiro ou com os governos dosrespectivos países que estão aqui representados", concluiu Moutinho.