Mega-empreendimento influencia criação de reserva extrativista, diz comunidade

21/03/2008 - 11h24

Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Organizações não-governamentais e líderes comunitários nãodescartam a influência do setor de carcinicultura (criação de camarões) nademora para criar uma unidade de conservação em Cassurubá, na região doArquipélago de Abrolhos, sul da Bahia.“Não podemos garantir se é o que de fato está impedindo aunidade, mas com certeza os carcinicultores fizeram pressão política entre ospartidos e parlamentares que os apóiam e na Casa Civil”, aponta o coordenador do Programa Marinho da ONG Conservação Internacional, GuilhermeDutra. “Temosa informação de que isso teria também a influência do setor de óleo e gás, porcausa de alguns blocos (de exploração) que estão vizinhos à área da reserva”,acrescenta.O diretor da organização não-governamental (ONG) Artimanha,Jorge Galdino, responsável por mobilizar a população em prol da criação da unidade, diz que“há ações de interesse político para frear a reserva”.O sul da Bahia é alvo de interesse do setor de carcinicultura,representado na região de Cassurubá pela Cooperativa de Criadores de Camarão doExtremo Sul da Bahia (Coopex), que conta com apoio de parlamentares, inclusiveno Senado Federal. A idéia é criar, em parte destinada à Reserva Extrativista(Resex), um mega-empreendimento de carcinicultura, o maior do Brasil, na áreade 1.517 hectares, num investimento de R$ 60 milhões. Uma liminar concedida apedido do Ministério Público Federal suspendeu o processo de licenciamentoambiental da obra.“A não-publicação foi uma coisa completamente inusitada. Tudopassa a ser possível nesse contexto. A gente espera que exista um mínimo deconsistência por parte do governo federal para dar um final a essa questão. Seessa liminar cai, o processo [de licenciamento] não teria impedimentospara continuar adiante”, defende Guilherme Dutra.De acordo com ambientalistas e representantes da comunidade depescadores, a instalação de um mega-empreendimento de carcinicultura trariadanos irreversíveis à biodiversidade e prejuízos sociais para as populaçõestradicionais.De acordo com o chefe do Parque Nacional deAbrolhos, Marcelo Lourenço, a construção dos criatórios de camarões degradaria os manguezais, oque comprometeria uma parte do ciclo de vida de espécies que vivem nos corais.“Tem um potencial de impacto ambiental bastante significativo. A destruição domanguezal prejudica o Parque Nacional, o turismo, a pesca artesanal”, explica.“Um projeto como esse utiliza uma quantidade de água muitogrande do estuário, essa água entra carregada de larvas de vida marinha eretorna carregada de matéria orgânica em decomposição e produtos químicos. Nomédio prazo a gente estaria matando o berçário do banco de corais de Abrolhos”,acrescenta Guilherme Dutra, da Conservação Internacional.Cerca de 900 pessoas trabalham atualmente com pesca artesanalna região de Cassurubá. De acordo com a representante da Associação deMarisqueiras de Ponta de Areia e Caravelas, Marilene Costa, a comunidade tambémé contrária ao empreendimento. “A criação de camarões seria péssima para agente. Vi [em criatórios] no Ceará como as pessoas vivem em situaçãoruim, vi a degradação dos manguezais”, conta."São usos incompatíveis, enquanto a Resex buscagarantir a integridade do manguezal para a sustentabilidade das famílias queutilizam os recursos naturais para subsistência, o empreendimento decarcinicultura busca a privatização da área, o que prejudica a população eprincipalmente o ambiente”, afirma o chefe do Parque Nacional de Abrolhos.