Participação de índios em conflito com policiais por posse de terra será investigada

17/03/2008 - 14h21

Amanda Mota
Repórter da Agência Brasil
Manaus - O MinistérioPúblico Federal (MPF) vai investigar a ação daPolícia Militar no último dia 11, envolvendo cerca de150 policiais, para cumprir determinação da Justiçade reintegração de posse de uma área particularno Km 11 da estrada AM-010, que liga Manaus à Itacoatiara, eretirar um grupo do Movimento dos Sem-Teto do Norte (MSTN), do qualparticipavam indígenas.De acordo com o administrador daFunai no Amazonas, Edgar Fernandes, que entregou um relatórioao MPF da participação de indígenas na ocupação, apesar da comprovada participação de índiosno conflito, eles não habitavam o local juntocom os sem-teto. "O próprioMPF pediu um relatório da Funai para apurar se houve ou nãotruculência e abuso por parte da polícia. Contudo, temosque deixar bem claro que esses índios não são dealdeias e já moram há muito tempo dentro do perímetrourbano. Os sem-teto chamaram eles dias antes da reintegração.Além disso, esse lote de área é uma propriedadeparticular. Não se refere a uma terra indígena, quepertence à União ou terra demarcada. Por isso nãohá o que discutir sobre a permanência dos indígenasno local", disse Fernandes.Na avaliação deFernandes, os indígenas foram usados como "escudo"pelos sem-teto e grileiros daquela região. "Os sem-teto eos grileiros sabiam que se chamassem os indígenas iriam poderse esconder atrás deles nessa questão da invasão.Todos esses indígenas moram dentro da cidade. Uns têmtrabalho e outros até casa própria. Esse é umfato inédito. É a primeira vez que temos notíciade índio participando de invasão de propriedadeprivada", disse o dirigente da Funai.No dia da açãopolicial, 22 pessoas foram detidas em virtude do confronto com aPolícia Militar. Desse total, segundo a Funai, quatro delassão mestiças e 15 são brancas. Somente trêseram indígenas - e já foram liberadas. Segundo a PolíciaMilitar, o confronto foi deflagrado porque os policiais foramrecebidos pelos ocupantes da terra com "pedradas e flechadas".A assessoria deComunicação da Polícia Civil do Amazonasinformou que um novo inquérito pode ser aberto após adivulgação do resultado do exame de corpo delito feitopelos indígenas envolvidos. Os outros envolvidos sãoreincidentes no crime de invasão e vão responder a umprocesso.O coordenador geral da Coordenaçãodas Organizações Indígenas da AmazôniaBrasileira (Coiab), Jecinaldo Barbosa Cabral, da etniaSaterê Mawé, disse que os indígenas envolvidos no conflito só foram ao local por uma “questão de necessidade”.  "Tudo o queaconteceu pode estar encobrindo um outro problema, que é abusca por melhores condições de moradia. Eles sóforam lá atrás de moradia com dignidade", disseJecinaldo, ao informar que o grupo indígena "vive numa áreainadequada", em Manaus.