Para ONU, coca plantada na Amazônia indica necessidade de mais fiscalização

17/03/2008 - 19h41

Marco Antônio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os dois hectaresocupados por pés de coca encontrados pelo Exército nasproximidades de Tabatinga (AM) representam pouco em relaçãoà cocaína que passa pelo Brasil , mas sinalizam para anecessidade de se reforçar a fiscalização naregião. A avaliação foi feita hoje (17) pelorepresentante regional do Escritório das NaçõesUnidas Contra Drogas e Crimes (UNODC), Giovanni Quaglia, para quem as autoridades devem ser alertadas: até então, só se tinha notícia deplantações de coca na região para consumopróprio de indígenas. “É uma chamadade atenção, uma novidade, mesmo que o cultivo seja em quantidade muito limitada. É sempre bom cuidar para que nãocresça. O perigo sempre existe. Há áreas daAmazônia na Colômbia, na Bolívia e no Peru ondejá se cultiva coca em altitudes baixas, de até 400metros”, afirmou, em entrevista à AgênciaBrasil. Ele explicou que a coca produzida em regiões altas tem folha pequena e suave, mais usada para mastigação. Naregião amazônica, a folha da planta seria muito grossa e dura,servindo exclusivamente à produção de cocaína. Para dimensionar arepresentatividade dos pés da planta encontrados emTabatinga, Quaglia lembrou que cerca de 40 toneladas de cocaínasão consumidas por ano no Brasil: “Por cada hectare de cocacultivada produzem-se em torno de seis quilos de cocaína. Em se tratando de dois hectares, o máximo que os traficantespoderiam tirar seriam 12 quilos de cocaína.”Além das 40toneladas para consumo interno, ainda passariam pelo Brasil comdestino à Europa, via África, outras 40 toneladas decocaína, estima a ONU. Quaglia disse considerar “humanamente impossível”controlar com eficiência uma fronteira tão extensa comoa existente entre Brasil, Bolívia, Colômbia e Peru. E a principal solução para coibir o tráfico, defendeu, não é o aumento do efetivo de segurança naregião. “Não seria prático do ponto de vistaoperacional reforçar a fronteira com muitos homens. Dámais resultado o trabalho de inteligência que as políciasfazem e podem melhorar, para desmantelar e prender esses gruposcriminosos. Eles muitas vezes não estão na fronteira,mas nas grandes cidades”, argumentou. A ONU considera aexistência de produção anual conjunta de cerca demil toneladas de cocaína entre Colômbia, Bolíviae Peru. Do total, 400 toneladas seriam apreendidas pela políciano mundo inteiro. Além do Brasil, outro país apontadapela entidade como rota de escoamento do produto para a Europa éa Venezuela. Já 80% da coca consumida nos Estados Unidoschegariam lá via México e países do Caribe. As políticas de redução do consumo são apontadas por Quagliacom primordiais no combate ao tráfico de drogas: “Enquantohá um mercado consumidor que demanda os produtos, sempre haverá alguém disposto a produzir e traficar. Se queremos encontrarsoluções definitivas, a melhor forma é reduzir ademanda de consumo de substâncias como cocaína emaconha.”