Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Financiamento aprovado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social vai auxiliar o desenvolvimento de pesquisas para benefício de pessoas portadoras de doenças como hemofilia, aids e câncer. No montante de R$ 7,2 milhões, os recursos não-reembolsáveis do BNDES se destinam ao projeto Desenvolvimento de Medicamentos Recombinantes para Uso em Hematologia/Hemoterapia.
O projeto é realizado em parceria entre o Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares, da Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) e a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), estatal vinculada ao Ministério da Saúde.
A coordenadora do laboratório da Coppe, Leda Castilho, informou à Agência Brasil que o objetivo principal do projeto “é desenvolver tecnologia nacional e eficiente para produzir três biofármacos. “Dois deles são fatores de coagulação sanguínea recombinante, ou seja, obtidos através de técnica de engenharia genética, e não purificada a partir de plasma (sangue) de doadores. E nesse caso ajudaria os pacientes com hemofilia. O terceiro biofármaco cuja tecnologia de produção a gente vai desenvolver é o G-CSF, também recombinante”.
Esse G-CSF é uma proteína que estimula a produção de glóbulos brancos. Leda Castilho explicou que em geral, pacientes com câncer e aids têm deficiência de glóbulos brancos como efeito colateral no tratamento. O G-CSF é usado como coadjuvante no tratamento quimioterápico do câncer e também da aids. “Sabe-se, inclusive, que o uso do G-CSF em pacientes com câncer permite que maiores doses de quimioterápicos sejam usadas, fazendo com que o tratamento seja mais efetivo”, revelou.
A coordenadora do Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares da Coppe/UFRJ esclareceu que uma vez desenvolvida a tecnologia, serão produzidos os primeiros lotes experimentais. A previsão é que isso ocorra no prazo de três anos. Esses lotes serão utilizados pela Hemobrás para realização de estudos clínicos. “Esses estudos clínicos prévios são necessários para cada medicamento que se queira colocar no mercado, para comprovar a eficácia e a segurança daquele biofármaco”.
Caso o projeto tenha sucesso, a Hemobrás pedirá o registro desses três biofármacos para a Agência de Vigilância Sanitária(Anvisa). “Obtendo o registro, a Hemobrás poderia montar uma fábrica para produção desses três biofármacos recombinantes. E após a planta entrar em operação, esses medicamentos poderiam ser disponibilizados para a população, em todo o país”, salientou Castilho.
A nova tecnologia vai representar economia para o governo brasileiro, frisou a pesquisadora da Coppe. “Com certeza. Os custos para o desenvolvimento do projeto, das tecnologias e, posteriormente, para construir a fábrica, são menores do que o país gasta por ano com a importação apenas de fator 8 e fator 9 [medicamentos para hemofílicos]. O Brasil vai fazer uma economia grande, porque deixará de importar esses biofármacos que têm elevado custo”.
Ela lembrou que para comprar os princípios ativos desses medicamentos biotecnológicos no exterior o país gasta atualmente cerca de R$ 200 milhões /ano. “Então, a única solução para o país poder atender a todos os hemofílicos do tipo A com um produto nacional de custo menor e garantir assim o fornecimento a todos os pacientes, seria através da construção de uma fábrica de fator 8 recombinante”. Hoje em dia, o Brasil possui cerca de 7 mil hemofílicos.O apoio do BNDES será concedido no âmbito do Fundo Tecnológico (Funtec) para a Fundação Coordenação de Projetos, Pesquisas e Estudos Tecnológicos (Coppetec), da Coppe/UFRJ. A Hemobrás objetiva a produção de medicamentos hemoderivados, a partir do fracionamento industrial do plasma, e também produtos obtidos pela biotecnologia moderna, que são as moléculas denominadas recombinantes, porque são obtidas a partir de engenharia genética.