Mineradoras contribuem para aumentar exploração sexual no Amapá, diz coordenadora

11/03/2008 - 6h25

Leandro Martins
Repórter da Rádio Nacional da Amazônia
Brasília - A instalação de empresas mineradoras em pequenas cidades no Amapácontribuiu para o crescimento da exploração sexual de crianças eadolescentes. É o que denuncia Carla Góes, coordenadora estadual do ProgramaSentinela, que atende vítimas de abuso sexual.No estado, o município que apresenta índices mais elevados de exploraçãoé Pedra Branca do Amapari, a cerca de 200 quilômetros de Macapá, que tem7,3 mil habitantes. O motivo, segundo a coordenadora, é a instalação dasmineradoras que chegaram ao local em 2006 levando cerca de 2 miltrabalhadores de outras cidades e estados. Além disso, muitos dos homens não levaram suas famílias. "Chegou a um ponto em que as adolescentes vão nos alojamentos, pousadas e hotéis oferecer 'os serviços' para os trabalhadoresdessas empresas, principalmente nos dias de pagamento", afirma Carla.Como o município é pobre, as meninas são incentivadas pelos própriosfamiliares a conseguir dinheiro para ajudar em casa. Segundo Carla, a exploração já "chegou a um ponto tão crítico" que ospróprios pais das jovens, e principalmente as mães, "agenciam" asfilhas. O objetivo é conseguir dinheiro para contribuir financeiramentepara o sustento da família. Outro foco de exploração sexual de jovens no estado é Oiapoque,localizado na fronteira com a Guiana Francesa.De acordo com apresidente do Conselho Tutelar da cidade, Carmem Lúcia Saldanha, amaioria das meninas vem de outros lugares. "Muitas das vezes, elas não são só de Oiapoque. Vêm de Belém, comdocumento de identidade falso, dizendo que são maiores de idade, enganandoseus pais dizendo que vão estudar, trabalhar em casa de família, isso jáaconteceu", afirma a presidente.Ao contrário do que acontece em Pedra Branca do Amapari, onde as meninas são exploradas para o sustento da família, em Oiapoque, afirma CarmemLúcia, o objetivo é satisfazer necessidades de consumo, como comprartelefones celulares e roupas de marca. Ela lembra que o dinheiro dosturistas da Guiana é o euro - que vale cerca de três vezes mais que o real. Carmem Lúcia garante que o Conselho Tutelar apura denúncias, mas alega que é difícil ocorrer um flagrante. Essa situação está chamando a atenção de prefeitos e de entidades quelidam com menores. Segundo a prefeita de Serra do Navio, FrancimarSantos, a chegada de tantos homens sem família modificou a realidade domunicípio."A maior parte dos homens, quando chega, procura bares, procurasalões de festa e mulheres. E também há mulheres de fora chegando emnosso município. E há a questão da gravidez precoce crescendo em nossomunicípio. Na maioria das vezes, eles engravidam nossas meninas e vão embora", lamenta Francimar. Além do aumento da prostituição e da exploração sexual de meninas, aprefeita reclama que o aumento repentino da população trouxe mais prejuízos do que compensações. Segundo Francimar, há muito mais lixo na cidade, e já falta energia elétrica e água tratada para atender a todos. As escolas estão lotadas de crianças e os agentes de saúde não conseguematender a tantos doentes.O gerente de Saúde, Meio Ambiente e Comunidade da Mineração Pedra Brancado Amapari (MPBA), Claudinei Mariano Alves, afirma que a empresa não temconhecimento desse fato. Claudinei acrescenta que, nos últimos doisanos, a mineradora reduziu o número de empregados e deprestadores de serviço. A empresa, no entanto, de acordo com ele, não descarta ações solidárias se for responsabilizada por problemas na comunidade. "A empresa busca sempre se colocar junto às comunidades deinterferência, no caso de Pedra Branca do Amapari e de Serra do Navio,para estabelecer parcerias no controle de problemas sociais diversos, porém esse não nos foi levantado", explica. Segundo o gerente, a MPBA emprega atualmente 361 empregados diretos e115 prestadores de serviço.