Pesquisadores manifestam expectativa por rede de informações sobre células-tronco

08/03/2008 - 16h55

Irene Lôbo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Mesmo com o adiamento da decisãodo Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o Artigo 5º da Lei deBiossegurança, que autoriza o uso de células-troncoembrionárias em pesquisas, o Ministério da Saúdemanteve a decisão de criar o Instituto Nacional de TerapiaCelular (INTC). Pesquisadores da área manifestam expectativadiante da possibilidade. O ministro da Saúde, JoséGomes Temporão, informou na última quinta-feira (6) quea rede brasileira de terapia celular deverá estar em atividadeem abril. Segundo Temporão, o INTC será uma rede deconhecimentos virtual, para troca de experiências sobrepesquisas com células-tronco por um conjunto de instituiçõesde pesquisas, centros universitários e institutos, como oInstituto Nacional do Câncer (Inca) e o Ludwig em SãoPaulo. Há dois anos o país conta com uma rede de bancode sangue de cordão umbilical e placentário, com quatrolaboratórios e cerca de 5 mil cordões armazenados.

Para o pesquisador AntônioCampos de Carvalho, do Instituto Nacional de Cardiologia deLaranjeiras, no Rio de Janeiro, a iniciativa do governo éfundamental para que o Brasil permaneça na posiçãode destaque que alcançou nessa área e possa oferecer àsociedade as melhores opções em termos de medicinaregenerativa no futuro.

“A criação de uminstituto nacional permitirá organizar e coordenar as pequisase criar as condições de infra-estrutura para que osgrupos de pesquisa tenham acesso mais fácil a reagentes,equipamentos, cursos de treinamento para os estudantes e técnicos”,prevê. “Com uma coordenação centralizada, pensoque avançaremos com mais rapidez e eficiência naspesquisas e aplicações das células-tronco.”

Carvalho avalia que a interrupçãodo julgamento no STF não irá interferir no resultadofinal, e que deve ser indeferida a ação direta deinconstitucionalidade (Adin) contra o uso das células-troncoembrionárias. “Espero apenas que o Supremo não adie ojulgamento por muito tempo, pois essa indefiniçãocertamente não ajuda no desenvolvimento da pesquisa”,comenta.

Para o pesquisador JoséEduardo Krieger, diretor do Laboratório de Genética eCardiologia Molecular do Instituto do Coração doHospital das Clínicas de São Paulo, a criaçãodo INTC consolida um posicionamento do governo federal de financiarmais pesquisas.

“Os agentes de financiamento forammuito felizes quando aproveitaram esse nicho de oportunidade que foia criação de uma coisa nova nesses últimos seteanos: a perspectiva de fazer a reparação de órgãosadultos com terapias celulares e fazer o investimento, porqueidentificaram que existia uma massa crítica incipiente depesquisadores no país”.

Krieger lamentou o adiamento no STF:“Foi muito ruim na medida em que o país deu um exemplo demaneira relativamente rápida ao colocar uma regulaçãonessa área e, com a colocação dessa Adin efinalmente agora com o julgamento, começa-se a se questionarisso. Talvez, para o gosto dos pesquisadores, essa lei [a Lei deBiossegurança] nãofosse tão abrangente quanto a gente queria, mas ela foi muitoimportante porque deu passos gradativos e uma série desalvaguardas”.

Na avaliação doprofessor Stevens Rehen, do Departamento de Anatomia da UniversidadeFederal do Rio de Janeiro (UFRJ), a criação do INTCajudará os pesquisadores a trabalhar em conjunto.

“Talvez eu tenha como contribuirpara treinar outros pesquisadores em outras regiões do Brasilna minha área de pesquisas, eu quero aprender com outrospesquisadores de outras áreas, de outros estados, e é apartir de redes de conhecimento, redes virtuais e reais, onde a gentepossa interagir fisicamente, trazer estudantes, levar estudantes, quea gente vai ter condições de competir como naçãopara o desenvolvimento de novas tecnologias baseadas emcélulas-tronco”, afirma o professor, que preside a SociedadeBrasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC).

Rehen espera que o STF nãodemore a julgar novamente a Adin que decidirá se os cientistaspoderão usar células-tronco embrionárias empesquisas. “Isso acaba gerando uma desaceleração nosinvestimentos federais e nos grupos de pesquisas que têm comoprioridade investir nessa área”, afirma o pesquisador, quetrabalha com a produção em grande escala decélulas-tronco embrionárias com o objetivo e teste emanimais com lesões medulares.

De 2005 para cá, osMinistérios da Saúde e da Ciência e Tecnologiainvestiram cerca de R$ 24 milhões em pesquisas comcélulas-tronco. Naquele ano, o Conselho Nacional deDesenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) aprovou45 projetos na área, dos quais 39 eram pesquisas com célulasadultas e seis com embrionárias. Nesses projetos foraminvestidos R$ 10 milhões, sendo R$ 2 milhões para aspesquisas com células-tronco embrionárias.

A lista de pesquisadores que tiveramprojetos com células-tronco embrionárias aprovadosinclui três cientistas de São Paulo (Mayana Zatz, Lygiada Veiga Pereira e José Eduardo Krieger, da Universidade deSão Paulo – USP), dois do Rio de Janeiro (AntônioCarlos Campos de Carvalho e Stevens Rehen, da Universidade Federal doRio de Janeiro – UFRJ) e uma de Goiás (Lídia Guillo,da Universidade Federal de Goiás – UFG). Há estudossobre mecanismos de diferenciação e uso terapêuticoda células-tronco embrionárias, sobre a expansãoin vitro desse tipo de células e controle de suadiferenciação.