Marco Antônio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - As ocorrências detrabalho escravo no Brasil ainda resistem porque estão vinculadas àexpansão de atividades econômicas agrícolas quecontam com preços internacionais favoráveis. A avaliação é do coordenador dacampanha de combate ao trabalho escravo da Comissão Pastoralda Terra (CPT), Frei Xavier Plassat, que comentou hoje (1º) os resultados da pesquisa divulgada pelaorganização não-governamental (ONG) Human Rights Watch. Ao lembrar que a Região Centro-Oeste já superou a Região Norte em númerode trabalhadores explorados, o frei afirmou que “isso significa que oavanço do agronegócio, da cana e da soja no cerrado sefaz à custa de trabalho degradante.” Em 2007, segundo a CPT,foram libertadas pelas equipes móveis do Ministério doTrabalho e Emprego 5.968 pessoas submetidas a condições análogas à escravidão. O número registrado foi recorde dos últimos15 anos. Desse total, 2.829 foram encontradas noCentro-Oeste, 2.036 no Norte e 743 no Nordeste. A CPT aponta avançoscrescentes na fiscalização, pois 80% das libertaçõesocorridas (contabilizadas desde 1995) se deram a partir de 2003. “Mesmo assim, temospontos de resistência fortes. Descobrimos trabalho escravo emregiões que aparentavam estar isentas, como Mato Grosso doSul, onde mais de mil índios forram libertados de canaviais,Goiás, São Paulo e Minas Gerais”, ressalvou FreiXavier.O coordenador da CPTrevela que aproximadamente 60% das denúncias de trabalhodegradante recebidas pela entidade se referem à pecuária,seguida pela soja, algodão, cana e carvoarias.A impunidade também foi criticada pelo Frei Xavier Plassat ao lembrar que ninguém foi responsabilizado até agora pela chacina de fiscais do trabalho ocorrida em Unaí (MG) há 4 anos. "Há muita lentidão nosprocedimentos na Justiça criminal. A quantidade de recursospossíveis é grande."Para que o Brasilcaminhe na erradicação dessa modalidade de crimecontra os direitos humanos, o coordenador da CPT diz que é necessário ir alémdo reforço na estrutura de fiscalização.“Libertar do trabalho não erradica a escravidão. Temque se evitar o recomeço, com políticas de reformaagrária, inclusão social, geração deemprego e renda para que ninguém tenha que sair de casa,enfrentar longas migrações e aceitar qualquer condição que se apresente.” Frei Xavier Plassatdestacou como sinal de melhoria e “esperança” o fato de osestados do Tocantins, Maranhão, Piauí, Pará e da Bahiaterem elaborado planos de erradicação do trabalhoescravo.