Subsecretária norte-americana classifica de limpeza étnica violência no Quênia

30/01/2008 - 17h37

Ana Luiza Zenker*
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A subsecretária norte-americana de Estado para Assuntos Africanos, Jendayi Frazer, afirmou hoje (30) que a violência no Vale do Rift, no Quênia, entre as etnias Kalenji e Kikuyu é uma "clara limpeza étnica" destinada aos Kikuyu.Frazer, que participará da reunião da União Africana (UA) que começa amanhã (31) e vai até sábado (2) em Adis Abeba, Etiópia, disse não considerar um "genocídio" os conflitos étnicos no país, mas admitiu o uso de práticas violentas. "O objetivo inicial não era matar, mas limpar, escorraçá-los [os kikuyus] para fora da região", disse.Mais de mil pessoas morreram e 250 mil ficaram desalojadas no Quênia desde o início das perturbações que se seguiram à reeleição do presidente Mwai Kibaki, em 27 de dezembro. O candidato da oposição, Raila Odinga, rejeitou o resultado e acusou Kibaki de ter fraudado as votações.Ontem (29), Mwai Kibaki e Raila Odinga iniciaram conversações, na presença do mediador Kofi Annan, ex-secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Annan, que tenta há uma semana encontrar uma saída para a crise, em nome da União Africana, disse que os problemas fundamentais da crise queniana deverão ser resolvidos "dentro de um ano", na abertura da reunião em Nairóbi.Em Bruxelas, na Bélgica, o chefe da Diplomacia da União Européia, Javier Solana, e o comissário europeu para o Desenvolvimento, Louis Michel, declararam-se ontem (29) "muito preocupados" com "o agravamento rápido" da situação no Quênia, mas "saudaram" a abertura de negociações entre o presidente eleito e o seu rival.Solana e Michel indicaram ainda que "apóiam totalmente os esforços de mediação de Kofi Annan" e apelam aos líderes políticos para que "assumam as responsabilidades comprometendo-se totalmente e de forma incondicional na busca de uma solução política para o diálogo".Os dois opositores fizeram um novo apelo à paz, mas com prioridades diferentes. Odinga destacou a necessidade de resolver a disputa eleitoral e Kibaki pediu a restauração da segurança no território. "Sinto muito tristeza por ver os quenianos defrontarem-se violentamente uns e outros por assuntos que podem ser discutidos e resolvidos pacificamente pelo diálogo", afirmou o presidente reeleito.A polícia queniana afirmou hoje ter recebido ordens para disparar para matar contra saqueadores, pessoas que portem armas, bloqueiem rotas ou ruas e causem incêndios, para frear a onda de violência que sacode o país.A ordem foi dada, pela segunda vez, pelo presidente Kibaki, depois do início formal de diálogo com o líder da oposição, Odinga. “Há quatro categorias de pessoas que enfrentam uma dura ação policial: os que saqueiam propriedades, os que queimam casas, os que portam armas de ataque ou os que levantam barricadas em caminhos”, informou a polícia em comunicado.