Mais de 15 anos são necessários para superar desigualdade entre brancos e negros no ensino, diz pesquisador da UFRJ

06/01/2008 - 13h31

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Embora a desigualdade entre brancos e negros no que se refere à presença no ensino fundamental tenha diminuído nos últimos dez anos, nos níveis médio e superior há assimetrias que só poderiam ser superadas no prazo de 17 anos.A conclusão é do levantamento elaborado pelo Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (Laeser) do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).O estudo integra o quarto capítulo dentre os 11 que vão compor o1º Relatório das Desigualdades Raciais no Brasil, que deve ser concluído em março e atualizado a cada ano.Segundo o pesquisador da entidade Marcelo Paixão, nos últimos dez anos houve uma queda na diferença do tempo de estudo entre negros e brancos.Entre 1996 a 2006, foi registrado um aumento de 1,6 ano de estudo entre os brancos com idade acima de 15 anos. Entre os negros da mesma faixa etária, o crescimento foi de 1,9 ano de estudo. "A diferença entre os dois grupos se reduziu em 0,3 ano de estudo. Seessa queda mantiver essa média, a redução das desigualdades se esgotariaem não menos que 17 anos".Ele lembra que, normalmente, o prazo para a conclusão do ensino fundamental e médio é de 11 anos. “Ou seja, dizerque vai demorar 17 anos significa dizer que haverá pelo menosduas gerações ainda com desigualdades”.Para o pesquisador, o acesso ao segundo grau é o principal gargalo da educação brasileira. Segundo ele, osprincipais indicadores para medir a qualidade do ensino são asdefasagens entre a idade da pessoa e a série em que ela estudae entre o número de matrículas para umadeterminada série e a idade das crianças que a freqüentam.Nesse sentido, diz Paixão, o percentual de jovens com idade entre 15 a 17 anos que estudam em série compatível é muito baixo, especialmente para a populaçãonegra. “Isso sinaliza que, se por um lado ocorreu umauniversalização no primeiro grau, ainda temos um duplo desafio”.Segundo Paixão, a queda na desigualdade está relacionadaprincipalmente às taxas de cobertura do sistema escolar. “Houve uma expansão da freqüência escolar na população entre sete e 14 anos de idade. Isso trouxe aequiparação dos indicadores de jovens negros e brancos no Brasil, o que não significaque a diferença da qualidade do ensino paraambos tenha caído em igual proporção".Desmembrando os dados, Paixão informa que 80% dapopulação branca entre sete e 14 anos de idade estuda em escola privada e 20%em escola pública. "Mas menos de 10% de criançasnegras estudam em escola privada. Considerando asdefasagens nos sistemas público e privado,isso também denota o quanto é importante para a população negra amelhoria na educação pública", observa o pesquisador. "Enquanto ela nãoocorrer, a qualidade do ensino para os negros será muitoaquém que a de brancos”.