Marco Antônio Soalheiro*
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A presença do Brasil com destaque entre os maiores exportadores de carne do mundo intensifica pressões em áreas da floresta amazônicaque já sentiram os efeitos da atividade pecuária. Aavaliação é do diretor de ProteçãoAmbiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos RecursosNaturais Renováveis (Ibama), Flávio Montiel da Rocha.Em entrevista à Agência Brasil, ele informou que entre as áreas que exigem maior capacidade de monitoramentoestão o norte do estado de Mato Grosso e o Pará, nas regiões da Terra do Meio, do NovoRepartimento e de Cumaru do Norte, além das proximidades da BR-163, que liga as cidades de Cuiabá (MT) e Santarém (PA).“A pecuáriaexerce papel maior que a agricultura na linha de frente dodesmatamento. É o grande vetor de conversão da florestaem outros usos econômicos”, afirmou Montiel. Ele ressalvou, porém, que a responsabilidade pela devastação não podeser atribuída apenas a um setor. Aextração ilegal de madeira, por exemplo, égeralmente a atividade que abre frentes para posterior entrada dapecuária. Montiel argumentou ainda que o aumento do rebanhobovino na Amazônia, apontado em recente pesquisa do InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não sedeu necessariamente em função da expansãoda área de pastagem na região, mas da intensificaçãoda atividade, com melhor aproveitamento de áreas já devastadas e subutlizadas. A partir de decretoassinado neste mês pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Ibama estrátrabalhando na definição de 30 a 35 municípiosda Amazônia, que seriam responsáveis por mais de 50% dodesmatamento na região, para receberem açõesprioritárias do órgão em 2008. Caberá aoInstituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária( Incra) fazer o recadastramento de todas as propriedades ruraisexistentes. Um sistema de monitoramento para corte raso eexploração seletiva permitiria um acompanhamento maisrigoroso, pelo Ibama, do desmatamento nestes locais. “O sistema permitirá identificar se a derrubada é oriunda de plano demanejo aprovado ou de atividade ilegal, o que nos dá a condiçãode antecipar o combate antes que o corte raso venha a ocorrer”,explicou Montiel. Ele informou que como o monitoramento porgeoprocessamento e imagens de satélite é feito a cadadez ou 15 dias, e um desmatamento grande envolve até 50 dias deatividade, é possível ao Ibama fazer autuações em flagrante. O Ibama tem hoje cerca de 1.770 fiscais no país, designados porportaria com poder de polícia. O efetivo, segundo Montiel, édeslocado e concentrado na Amazônia em períodos maiscríticos: “O fiscal é antes de tudo um agente federal,que não está vinculado a um estado.” Mas o diretordo Ibama condiciona a redução de 59% no desmatamentoda Amazônia nos últimos três anos a ações integradas realizadas em parceria com a Polícia Federal,Exército, Marinha, Polícia Militar e órgãoestaduais de meio ambiente: “O efetivo cresce para mais de 4 milpessoas. Com o apoio logístico e policial, a capacidade deintervenção fica muito maior.” Segundo o Ibama, desde 2004 as ações de combate ao desmatamento na Amazônia reduziram em mais de 410 milhõesde toneladas a emissão de carbono na atmosfera e pouparam mais de 600 milhões de árvores.