Brasil começa a produzir urânio enriquecido em escala comercial em 2008

07/12/2007 - 6h02

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O Brasil começa, a partir do próximo ano, a produção de urânio enriquecido em escala suficiente para abastecer parte das necessidades das usinas de Angra 1 e 2. A informação é do presidente das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), Alfredo Tranjan Filho. Ele recebeu, nessa quinta-feira (6), na sede da empresa em Resende (RJ), a visita do diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), Mohamed El Baradei.

"A nossa expectativa é de que, em meados já de 2008, nós possamos produzir cerca de 5% das necessidades nacionais,  crescendo a partir daí", explicou Tranjan.

Com o enriquecimento do minério, o Brasil vai economizar dinheiro, que hoje é pago a empresas estrangeiras encarregadas do processo: "No momento em que você passa a produzir, deixa de pagar lá fora. É uma economia e uma entrada de divisas".

Até 2010, a usina de enriquecimento vai ter capacidade de atender 60% da demanda de Angra 1 e 2, o que representará uma economia de US$ 10 milhões por ano.

O presidente da INB disse que, além de atender a demanda interna por urânio enriquecido, um dos objetivos da empresa é se tornar exportadora do minério. Até 2030, Tranjan calcula que haverá mais 60 novas usinas nucleares operando no mundo, que vão requerer fornecimento contínuo de combustível.

Na visita à INB, El Baradei teve acesso a um dos segredos mais bem guardados da tecnologia nuclear brasileira: o sistema de ultracentrífugas em cascatas para enriquecer urânio, desenvolvido no país. Segundo o presidente da INB, El Baradei foi a primeira pessoa, fora do corpo técnico nacional ou do governo federal, a ter acesso ao equipamento. Atualmente, a nova geração de cascatas é 40% mais eficiente que as anteriores.

Para alimentar as usinas nucleares, é necessário enriquecer o urânio, que é encontrado na natureza em concentração de apenas 0,7% do tipo 235 - o que alimenta reatores. Para permitir o uso na geração de energia, o combustível tem que chegar ao mínimo de 3,5% de urânio 235, o que é conseguido após um complexo processo.

Das minas, o urânio se transforma em uma pasta de cor amarela (yellow cacke), que gera um gás, posteriormente enriquecido nas ultracentrífugas até virar um pó, que é prensado em forma de pastilhas de um centímetro de diâmetro. A fase do gás ainda é feita no exterior enquanto a fábrica de Resende não está com capacidade comercial para garantir a produção.

As pastilhas são colocadas dentro de tubos de um aço especial e formam os elementos combustíveis das usinas nucleares. Apenas duas pastilhas são suficientes para gerar energia para uma residência por um mês.O Brasil tem uma das maiores reservas de urânio do mundo, com potencial estimado de 300 mil toneladas, concentradas na Bahia (Lagoa Real e Caetité) e no Ceará (Itataia), o que é suficiente para suprir as necessidades internas e ainda garantir  excedente para exportação.