Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Oíndice de partos em mães adolescentes no Brasil representou 20,5% do total de nascimentos no país em 2006. O númeroteve uma ligeira queda em relação ao ano anterior(20,7%). A realidade entre as regiões brasileiras é desigual eo percentual de partos em mulheres com menos de 20 anos chega a quasedobrar entre as diferentes unidades federativas.Enquantono Maranhão o índice de partos em adolescentes foi de27,6%, no Distrito Federal foi de 15,3%. Os dados fazem parte dasEstatísticas do Registro Civil divulgadas hoje (6) peloInstituto de Geografia e Estatística (IBGE), com informaçõeslevantadas nos cartórios do país em 2006. Nosúltimos dez anos, segundo o levantamento, o índice departos em adolescentes caiu em três regiões, Sudeste,Sul e Centro-Oeste, e aumentou em duas, Norte e Nordeste. No país,o número permanece praticamente estável desde 2002,quando o índice foi de 19,9%. Em 2006, os percentuais dos estados do Sul e do Sudeste ficaram abaixo da médiabrasileira e dos demais, acima.Para a pediatra e professora da Universidade de Brasília (UnB)Marilúcia Picanço, a gravidez na adolescênciaestá diretamente relacionada às condiçõeseconômicas das jovens, que têm menor assistência dopoder público em locais de baixo desenvolvimento, como osestados do Norte e Nordeste, ou nas periferias das grandes cidades.“Éum grupo menos favorecido. Essas meninas têm pouca chance deestarem inseridas em um contexto onde pudessem buscar outraperspectiva de vida. A maioria não está estudando ouentão tem dois anos de atraso escolar, em média.”Outrasfalhas apontadas pela médica que levam ao grande númerode mães adolescentes são a falta de distribuiçãode métodos contraceptivos no sistema de saúde e a faltade um programa permanente que trate do assunto nas escolas.“Algumasescolas já inserem esse assunto no currículo, mas aindaé muito incipiente. A escola é o fórum legítimodos jovens e deveria estar trabalhando o projeto de vida deles,juntamente com os conceitos de cuidar do corpo, de evitar a gravideze de se prevenir contra as doenças sexualmente transmissíveis.”Amédica defende, inclusive, o uso do chamado contraceptivo deemergência, como é conhecida tecnicamente a pílulado dia seguinte, que pode ser tomada após a relaçãosexual, evitando a gravidez. “Não é abortivo. Éum contraceptivo oral, com uma dosagem maior, que vai impedir afecundação.”Alémda falta de ação mais determinada do poder público,Marilúcia Picanço destaca uma barreira cultural que asjovens trazem de família, que é a repetiçãodo modelo materno. “As políticas públicas para ojovem não deveriam estar focando somente os métodos deprevenção, pois falta é uma perspectiva devida”, acrescenta.Amédica desenvolve desde 2000 um projeto de acompanhamento dejovens mães no hospital universitário da UnB. Elaconstatou que a gravidez nessa idade quase sempre impede asadolescentes de continuarem a estudar, o que vai se refletir emdificuldades de inserção profissional. “Elas nãotrabalham, passam a viver com os pais e há uma perpetuaçãodo ciclo da pobreza”, ressalta.