"Ciclo vicioso" pode destruir 60% da Amazônia até 2030, aponta relatório apresentado em Bali

06/12/2007 - 7h59

Luana Lourenço
Enviada especial
Bali (Indonésia) - Acombinação de secas, queimadas e mudançasclimáticas pode apressar a savanização da Amazôniae a floresta pode chegar a pontos críticos de emissãode gases de efeito estufa em 20 anos. O diagnóstico foiapresentado hoje (6) pelo especialista Daniel Nepstad, do CentroWoods Hole de Pesquisa, durante a 13ª Conferência dasPartes sobre o Clima (COP-13), em Bali, na Indonésia. Asavanização é a transformação dafloresta em savana, um tipo de vegetação composta porgramíneas, árvores esparsas e arbustos, semelhante aocerrado.Nepstad, que há 23 anos realizapesquisas na Região Amazônica, aponta que os atuais cenários de desmatamento aliados ao aumento da pressãopela exploração agrícola da floresta e aoseventos climáticos extremos - como a seca que atingiu a regiãoem 2005 - podem levar à destruição de 60% da vegetaçãoaté 2030.Issorepresentaria a emissão de 15 bilhões a 25 bilhõesde toneladas de gases de efeito estufa, de acordo com o relatório,intitulado Os Ciclos Viciosos da Amazônia. O estudofoi encomendado pela organização não-governamental(ONG) WWF. "Uma vez que a exploração de madeira,a seca e o fogo entram na mata, a floresta fica mais vulnerávelainda para pegar fogo de novo, e o pecuarista, o fazendeiro tambémestarão lá novamente. São ciclos deretroalimentacão, ciclos viciosos levando à degradaçãoda floresta", explicou.O tema da reduçãode emissões por desmatamento é um dos principaisassuntos em negociação na Conferênciadas Partes sobre o Clima. "Falta um grandeincentivo econômico para a questão, por isso estamosaqui em Bali", afirmou Nepstad.O Brasil defende acriação de um fundo voluntário para garantir"incentivos positivos" aos países que conseguiremreduções comprovadas de desmatamento. Por enquanto, aproposta tem pouco apoio em Bali e deve perder espaço parasugestões que vinculem a compensação amecanismos de mercado e ao estabelecimento de metas - possibilidadesdescartadas pelo governo brasileiro. "Seriam necessáriosUS$ 8 bilhões [para frear o desmatamento], achomuito difícil conseguir todo esse dinheiro voluntariamente",  ressaltou Nepstad.Na avaliação de Mauro Armelim, daorganizaçãonão-governamental WWF Brasil, o paísdeveria aproveitar a COP como uma oportunidade para pressionar asnegociações e incluir a redução do desmatamentona agenda mundial de prioridades em relação às mudançasclimáticas."Otema vem ganhando espaço desde a COP-11, em Montreal, noCanadá. É um reflexo de que o mundo estáentendendo o assunto como uma oportunidade de redução [deemissões globais]", avaliou."Reduzir emissãode floresta significa reduzir o desmatamento, que tem uma sériede conseqüências, no caso do Brasil: roubo da madeira, grilagemde terra, mortes. Ou sejam, resolver o desmatamento significa dar umpasso adiante no desenvolvimento do país", acrescentou.