Usuários de hospital público criticam atendimento e esperam por mais recursos

05/12/2007 - 20h16

Marco Antônio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - No meio da tarde, o cenário no Hospital Regional deCeilândia, uma das cidades satélites mais populosas do Distrito Federal,reflete alguns dos problemas do Sistema Único de Saúde (SUS): usuários submetidos alongas esperas e, na enfermaria, pacientes amontoados em macas pelos corredores. A chegada da equipe dereportagem é suficiente para que espontaneamente reclamações comecem a surgir. “Quando chega repórter buscam profissionais para atendertodo mundo. Mas quando vai embora o povo fica todo esperando no banco de novo",criticou a dona de casa  Ivanilde Ribeiro, 49 anos, que com fortes dores no estômago diz teresperado por 7 horas para ser atendida. Luzia Rodrigues de Souza , 55 anos, está no hospital há18 dias acompanhando o pai, internado para tratamento de umapneumonia.  Segundo ela, muitas vezesos  acompanhantes ajudam as fazerserviços que caberiam a profissionais de saúde, como verificar soro enebulização. Ela reclama também de maucheiro e de falta de lençóis. Em entrevista à Agência Brasil, Luzia disse não confiar na utilização derecursos da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), cujaprorrogação da cobrança está sendo discutida no Senado: “Pegam dinheiro doimposto do cheque e dizem que é para hospital, mas a gente não vê para ondevai”. A peregrinação da paciente Arionete Carvalho de Souza, 39 anos, internada para tratar dedores provocadas por pedras nos rins, exemplifica a demora no atendimento público de saúde. Naúltima segunda-feira (3), Arionete chegou hospital às 7 horas da manhã e foi atendida às 5 horas da tarde. A recomendação médica foi um exame de ecografia, que teve de ser feito em clínica particular.  Quando voltou hoje (5), já com os exames em mãos, Arioneteteve de esperar mais 6 horas para ser internada.  E, para ela, foi rápido. “Conheço gente que demora muito mais paraconseguir”, disse, resignada.  Apaciente defende que os recursos anunciados pelo presidente Lula no PAC daSaúde sejam usados para “colocar mais camas, fazer salas e contratar maismédicos”.  Cantídio Batista, lavrador de 68 anos, está no hospital como filho que sofre de doença de chagas etem ferimentos espalhados por todo o corpo. Segundo Batista, o banho dopaciente é ele mesmo quem dá, pois “só fazem botar numa banheira velha”.  Ele defende que sejam aplicados maisrecursos nos hospitais públicos, para que os funcionários tenham condição de atender melhor.  A chefia da equipe médica não quis conceder entrevista pararesponder às críticas dos pacientes. O diretor do hospital não estava no local.Mas a técnica de enfermagem Misleir Campos, que trabalha há 5 anos nainstituição, admitiu que há superlotação e número insuficiente de profissionaispara a demanda: “Já ficamos em dois funcionários para atender de 25 a 30pacientes. E temos que dar banho, trocar fralda, conferir medicamentos”. Paraa técnica, a contratação de mais profissionais é uma carência geral em todos ossetores do hospital. Segundo ela, há muitas aposentadorias e licenças mas não há substituição desses profissionais. O secretário de Saúde do Distrito Federal, JoséGeraldo Maciel, disse que, nos últimos dois anos, houve avanços na prestação de serviços, mas admitiu que problemas persistem por insuficiência de recursos: “Existemmazelas que trabalhamos para superá-las. Falta transporte para pacientes, faltamequipamentos e material cirúrgico”.