Descaso com mulheres nas prisões ocorre em vários estados, afirma enviada ao Pará

01/12/2007 - 10h59

Priscilla Mazenotti*
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A enviada do governofederal ao Pará, Elisabete Pereira, aponta descaso com as mulheresno sistema prisional brasileiro. Ela é uma das coordenadorasdo grupo interministerial criado para acompanhar o caso daadolescente de 15 anos que ficou presa durante três semanasnuma cela com 20 homens, em Abaetetuba (PA), e é diretora da Secretaria Especial de Políticas Públicas para Mulheres. Segundo a coordenadora,o grupo tem feito visitas periódicas em presídios de SãoPaulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Rondônia, Brasília eEspírito Santo. "O que temos apurado nessas visitas éque a violência contra a mulher no sistema prisional éde muitos anos”, comenta, em entrevista à AgênciaBrasil. “É uma população que está completamente ignorada dentro do sistema. Os própriossecretários de Segurança Pública nos estados,quando trabalham os repasses financeiros do governo federal,trabalham para o setor de penitenciárias masculinas, nãodemandam nem investem coisa nenhuma para as mulheres." "Amulher no Brasil não pode nada. Ela não pode sequerdelinqüir", afirma. Na avaliação de ElisabetePereira, o sistema prisional do país "é o retratode uma cultura onde a mulher é invisibilizada e a presidiária,muito mais. Isso é punir a mulher duas vezes". Ela cita como exemplo amorte de três mulheres este ano no pavilhão 3 doPresídio de Santana (SP). Segundo ela, o secretário deAdministração Penitenciária do estado alegou, à época, que asmulheres já estavam doentes. Entretanto, de acordo com Elisabeet, pelo menos uma delas morreude leptospirose. "Tem uma contaminação imensa deratos, de pombos e de escorpiões dentro do presídio",afirma. Outro fato citado como exemplo de descaso foi a transferência de mulheres para uma ala do Complexo do Carandiru (SP), depois de sua demolição."Implodiram oCarandiru porque não servia mais para os homens, deixaram umpavilhão e mandaram para lá 1,3 mil mulheres queestavam espalhadas no estado", disse. "O raciocínioé que, quando não serve nem para o preso homem, sobrapara a mulher. É essa a filosofia do sistema nos estados",disse. Ela acrescentou que ogrupo interministerial vai propor alterações no sistema prisional feminino do país. "A alteraçãovai da estrutura arquitetônica do presídio, atéo trabalho com os filhos e a família dessa mulher parareintegrá-la na sociedade", afirmou.