Militar afirma que país não pode deixar de usar bombas de fragmentação

29/11/2007 - 6h30

Stênio Ribeiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Diretor de Assuntos Internacionais do Ministério daDefesa, o major-brigadeiro-do-ar Jorge Cruz de Souza Mello afirmou que o Brasil não pode prescindir do uso da bomba cluster, tambémconhecida como arma de fragmentação. Esse tipo de bomba, ao ser lançado se subdivideem explosivos que podem atingir área equivalente a quatro campos defutebol e também alvos civis. O maior inconveniente é quando essa submunição não explode no momento do lançamento, o que resulta em artefatos à deriva no solo,equivalentes a minas terrestres de pequeno alcance, mas que podemocasionar mortes e mutilações em quem as tocar, como tem acontecidoem maior número com crianças do Vietnam, Camboja, Líbano, Afeganistão,Sudão, Etiópia e outros. A Organização das NaçõesUnidas (ONU) articula movimento internacional no sentido de proibiresse tipo de armamento, que é fabricado por 34 países, dentre os quaiso Brasil. Mas, durante audiência pública na Comissão de RelaçõesExteriores e Defesa Nacional, da Câmara dos Deputados, o brigadeiroJorge Cruz de Souza Mello defendeu o uso da bomba cluster, desde que "longe das populações derisco", e enfatizou que as Forças Armadas "têm consciência eresponsabilidade daquilo que têm em mãos". De acordo com o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), que convocou aaudiência pública com o objetivo de chamar a atenção da sociedade parao uso do armamento, o Brasil está na contramão dos paísesvizinhos, que já se posicionaram pelo fim da bomba cluster, inclusiveChile e Argentina, que também a fabricam. Por isso, acha que "se existeuma demanda regional, o Brasil deveria se colocar à frente dela, e nãocontra ela". Também participaram da audiência o chefe da Divisão de Desarmamentoe Tecnologias Sensíveis do Itamaraty, Santiago Irazabal Mourão, e osrepresentantes da sociedade civil Daniel Mack, do Instituto Sou da Paz,e Cristian Ricardo Wittmann, da Campanha Brasileira Contra as MinasTerrestres. Wittmann ressaltou, inclusive, o aspecto contraditório do Brasil,que fala em nome da paz e dos direitos humanos nos fórunsinternacionais, mas, em contrapartida, continua fabricando a bombacluster e exportando-a para países que fazem guerra. Em especial noOriente Médio. Sobre essa negociação também não há a menortransparência, segundo ele, ao que o representante do Ministério daDefesa afirmou que existem salvaguardas mundiais para garantir areserva dessas operações.Daniel Mack disse que a bomba cluster é uma arma "obsoletatecnológica e moralmente" e acrescentou que "as Forças Armadas merecemreceber equipamentos de melhor qualidade para a defesa nacional". Elerevelou que representantes de 108 países, signatários do Protocolo deOslo (Noruega) contra o uso de minas terrestres, vão se reunir nopróximo dia 4, em Viena, na Áustria, para tratar da questão, e mais umavez o Brasil estará de fora, "à margem da discussão", e ficando cadavez mais isolado na defesa da bomba cluster, tanto na América Latinaquanto no mundo.