Sentimento de exclusão de países árabes pode comprometer Conferência de Paz, diz professor

28/11/2007 - 8h59

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os palestinos não são os únicos que não se sentem representados na Conferência de Paz para o Oriente Médio. O descompasso se estende a outros países do mundo árabe, pondo em risco a efetividade de encontros como o promovido por George W. Bush. "Existe um problema geral na relação entre governo e sociedade no Oriente Médio. Nesses encontros, quem está representando os países árabes, de uma forma geral, não são legítimos diante de suas populações", pondera Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). "Uma coisa são os governos árabes, outra coisa é a rua árabe. Não podemos nos iludir com a presença de diplomatas de governos ditatoriais e não representativos, como Arábia Saudita, Egito, Síria e Jordânia", ressalta. Ele destaca que a legitimidade norte-americana junto ao que chama de "rua árabe" tem caído muito por fatores como a presença dos Estados Unidos no Iraque, o que compromete a intermediação do país em um eventual acordo entre Palestina e Israel. Outro fator que compromete a Conferência de Annapolis, na avaliação de Nasser, é a ausência do Irã - potência regional com grande influência na geopolítica do Oriente Médio. "Depois do 11 de setembro, o país que mais cresceu em importância no Oriente Médio foi o Irã. Sua ausência também minimiza a importância do acordo entre Israel e Palestina. A presença do Irã seria fundamental", ressalta. Ainda assim, o professor considera importante a iniciativa norte-americana e lembra que o país tem sido, tradicionalmente, o intermediador de encontros de paz na região. Em 1978, o ex-presidente norte-americano Jimmy Carter promoveu acordos entre Israel e Egito - tais acordos foram negociados na casa de campo do presidente dos EUA, em Camp David, pelo então presidente do Egito Anwar Sadat e pelo primeiro-ministro de Israel, Menachem Begin. Mais de uma década depois, em 1993, Bill Clinton patrocinou encontro entre o líder palestino Yasser Arafat e o primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin, que resultou nos acordos de paz de Oslo. Novo encontro entre Palestina e Israel foi promovido também por Clinton em 2000, desta vez, sem sucesso. "Esse encontro [promovido por Bush] viria na seqüência, o único ator internacional capaz de fazer isso são os Estados Unidos", afirma.Desde o atentado de 11 de setembro, porém, os norte-americanos não mais intermediaram o processo de paz. A Conferência de Annapolis não se realiza agora por mero acaso. No ano passado os republicanos perderam a maioria no Congresso americano para os democratas. Em 2009 haverá eleições presidenciais e Bush tenta recuperar espaço."Passamos um bom tempo sem nenhuma iniciativa por parte dos Estados Unidos e a conferência acontece justamente agora. Não há dúvida alguma [de] que isso tem uma relação direta com as eleições nos Estados Unidos. Patrocinar um encontro sobre Oriente Médio, patrocinando a paz, é sempre bem-vindo para a sociedade americana", avalia Nasser.