Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A ausência do Hamas e a falta de legitimidade do presidente palestino Mahmoud Abbas colocam em risco qualquer acordo firmado entre Palestina e Israel durante a Conferência de Paz para o Oriente Médio, que ocorre na cidade norte-americana de Annapolis. A avaliação é de Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).O Hamas é uma organização política palestina rival do grupo Fatah, liderado pelo presidente da ANP, Mahmoud Abbas. Nessa terça-feira (27), na abertura da conferência, o presidente George W. Bush anunciou que israelenses e palestinos concordaram em iniciar negociações formais em dezembro para alcançar um acordo de paz antes do final de 2008. O compromisso foi firmado pelo primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, e pelo presidente da Autoridade Palestina, MahmudAbbas. O primeiro-ministro palestino, Ismail Haniyeh, do Hamas, não foi convidado a participar da Conferência de Paz convocada por Bush. Reginaldo Nasser acredita que, a exemplo do que ocorria com Yasser Arafat, falta legitimidade ao presidente Mahmoud Abbas para negociar acordos em nome do povo palestino. "Já à época, na presença de Arafat, se revelava uma cisão na sociedade palestina", frisa, lembrando que Mahmoud Abbas tem sido acusado pelos palestinos e pela comunidadeinternacional de corrupção de ter montado um aparato burocrático muito grande e ter piorado a condição econômica dos palestinos. Segundo ele, qualquer decisão sem o Hamas enfrentará resistência do povo palestino. "Gostando ou não, o Hamas é representativo de uma boa parcela da comunidade palestina, representa a parte mais pobre da população e está ausente das negociações. Entendo que esse será um grande problema para implementar qualquer acordo de paz em Annápolis", pondera. O Hamas derrotou o Fatah - partido de Mahmoud Abbas e de Yasser Arafat - nas eleições parlamentares de 2006, mas não é reconhecido pelos Estados Unidos, pela Europa e por Israel. "O ponto de partida desse encontro seria admitir o Hamas como uma força política, como interlocutor dos palestinos, e não como terroristas", diz o professor.Ele alerta ainda que dentro de Israel também há divergências e podem ocorrer reações ao negociado pelo primeiro-ministro Ehud Olmert em Annapolis. "Dependendo do que ele negociar, pode ter uma percepção negativa dentro de Israel. A idéia da radicalização está muito forte também na sociedade e no Parlamento israelense", afirma.