Aline Beckstein
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A taxa de mortalidade por causas externas, que inclui acidentes, violências, homicídios e suicídios, vem diminuindo no país desde 1997, chegando a 59 mil óbitos em cada 100 mil habitantes em 2005, segundo pesquisa do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde (Claves), vinculado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Segundo a pesquisadora do Claves Edinilsa de Souza, em 1997, a taxa chegou a 75,9 mil óbitos em cada 100 mil habitantes, representando o pico de uma trajetória de crescimento registrada desde 1980, quando a taxa de mortalidade brasileira por causas externas era de 59 mil óbitos para cada 100 mil habitantes."No começo dos anos 80, as causas externas eram o quarto fator de mortes no Brasil. Ao longo da década, o que fomos percebendo foi um aumento crescente desse número e, em meados dos anos 80, as causas externas já estavam em segundo lugar, perdendo apenas para as doenças cardiovasculares", informou Edinilsa. Segundo a pesquisadora, a redução foi motivada principalmente pela queda no número de homicídios e acidentes de trânsito, que, juntos, representam cerca de 60% das causas externas de morte no país. No caso dos homicídios, Edinilsa ressaltou que houve queda de cerca de 16% no número de mortes de homens entre 15 e 29 anos no período de 2003 a 2005. "Embora não esteja na pesquisa, eu avalio que um dos fatores que podem explicar essa queda seja o Estatuto do Desarmamento, de 2003, que retirou mais de 450 mil armas de circulação e estimulou um importante debate na sociedade brasileira", disse a pesquisadora.Segundo ela, um dos possíveis fatores para essa redução é o envolvimento da sociedade civil em "movimentos silenciosos,mas com grande poder de mobilização". Seriam trabalhos de movimentos sociais e organizações não-governamentais, vinculados ou não a igrejas ou entidades do governo. Edinilsa Souza citou como exemplo um trabalho realizado pela Igreja em um bairro pobre de São Paulo, o Jardim Ângela, que foi responsável pela queda de 130 para 30 mortes em cada 100 mil habitantes entre 2003 e 2005. Aliás, São Paulo teria sido o estado que mais reduziu o número de homicídios entre homens jovens: cerca de 40% nesse período, mais que o dobro da média nacional de 16%. Quanto às mortes no trânsito, o número começou a cair a partir de 1997, mas retomou a trajetória de crescimento em 2000."Mais de seis mil pessoas deixaram de morrer no trânsito entre 1997 e 2000, com a implantação no novo código de trânsito, de 1997. Mas, devido ao relaxamento no cumprimento da legislação, esses números voltaram a crescer", disse Edinilsa .A pesquisadora Edinilsa Ramos participou hoje, no Rio, do seminário internacional Perspectivas de Enfrentamento dos Impactos da Violência sobre a Saúde Pública.