Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O projeto da nova Constituição boliviana foi aprovado no último sábado (24) por apenas 136 dos 255 integrantes da Assembléia Constituinte. Três se abstiveram ou votaram contra. Os demais boicotaram a votação por não concordar com o texto. “Isso é grave, mostra que a Bolívia está muito dividida”, avalia o o professor e pesquisador do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Argemiro Procópio. Segundo ele, as províncias de Santa Cruz de La Sierra e Chuquisaca também não reconhecem o novo texto - Sucre, local dos conflitos, é capital de Chuquisaca. “O presidente Evo Morales vai ter muitas dificuldades”, acredita Procópio. Entre outras coisas, o texto geral da nova Constituição boliviana garante a nacionalização dos hidrocarbonetos. A nova Constituição diz que os recursos naturais são de caráter estratégico e de interesse nacional para o desenvolvimento do país e propriedade imprescritível do povo boliviano, cabendo ao Estado sua administração. A convocação de uma Assembléia Constituinte era uma reivindicação do povo boliviano para a discussão de temas como distribuição de terra, meio ambiente, nacionalização dos recursos naturais e direitos dos povos indígenas. Em seu discurso de posse, em janeiro do ano passado, Evo Morales pediu aos parlamentares bolivianos recém-eleitos que aprovassem o mais rápido possível a lei convocatória para realização da Constituinte. “O grupo indígena, apesar de majoritário na Bolívia, nunca antes havia chegado ao poder. Sempre foi a classe marginalizada, a classe mais explorada, a classe de excluídos”, comenta o professor. “Surgiu um governo indigenista, com bandeiras de esquerda, que achou que as leis não estavam adequadas e que precisava mudá-las para facilitar seu trabalho e sua plataforma política. Isso gerou, evidentemente, uma grande reação em muitas outras camadas populares e também entre as províncias, que equivalem aos estados no Brasil”, pondera.Segundo ele, a vitória de Morales aumentou a histórica rivalidade entre os estados amazônicos, plantadores de soja e mais ricos, e os estados do altiplano boliviano – mais povoados, com maior população indígena e mais pobres. “Com o presidente de sangue indígena, que abraçou a causa indigenista, esquentou a rivalidade entre regiões. Algumas regiões se acham exploradas pois pagam muitos impostos e não vêm os benefícios desses impostos”, relata. “Há uma questão regional cultural que agrava o quadro político boliviano”, avalia.