Ativistas propõem expansão de campanhas educativas para combater avanço da aids no país

28/11/2007 - 15h36

Marcia Wonghon
Repórter da Agência Brasil
Recife - Ativistas da área de direitos humanos do Brasil e de mais 15 países da Ásia, África, Europa e América Latinaparticipam hoje (28) e amanhã (29) de um fórum para analisar as ações implementadas pelo governo desde 2001, em cumprimento a acordos firmados com asNações Unidas para combater o avanço da aids. O objetivo do evento é definir estratégias para prevenir a  propagaçãodo vírus HIV, causador da aids, e melhorar a assistência aos pacientesinfectados.

O fórum é promovido pela Gestos, organização não-governamental (ONG) pernambucana que atua há14 anos na temática da aids e direitos sexuais e reprodutivos, desenvolvendoações com soropositivos (portadores do vírus HIV, causador da aids, que não apresentam sintomas da doença). 

O diretor do Programa de Inteligência Estratégica de Aids do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), Luiz Loures, informou que o mais recente relatórioglobal sobre a expansão do HIV, divulgado há uma semana,  mostra quea epidemia atinge atualmente 33 milhões de pessoas no mundo. “Somente no último ano foramcontabilizadas 2,2 milhões de novas infecções pelo HIV, em escala global. Adoença continua sendo a principal causa de morte na África e afeta cada vezmais jovens, mulheres”, observou.

Loures disse que no Brasil - onde, segundo dadosdo Ministério da Saúde, existem 474 milcasos de aids, a epidemia está estabilizada devido ao programa de combate àdoença, que é um exemplo para outras nações. "O Brasil está no caminho certo, eoutros países devem enxergar o exemplo brasileiro como forma eficiente de enfrentaro problema da epidemia.”

De acordo com Loures, a maior preocupação é com a propagação da epidemia entreas mulheres, que se tornam mais vulneráveis ao vírus devido a fatores como aviolência doméstica. “Não se pode esperar que a mulher consiga negociar o usodo preservativo com o parceiro, se ela tem uma relação tumultuada com ele, baseadana violência. Além disso, há risco de transmissão do HIV da mãe para os filhos.A contaminação de um número cada vez maior de mulheres é uma tendência global dadoença, em função a situação de fragilidade delas na sociedade”, comentou.

Para Loures, um dos principais desafios para conter apropagação da aids é expandir as campanhas educativas. “Da mesma forma quepreparamos uma criança para atravessar uma rua sem correr o risco de seratropelada por um carro, precisamos conscientizá-la para viver em um mundo comaids. É preciso explicar às novas gerações o que é sexo seguro, com preservativo,e os riscos da transmissão do vírus da doença pelo uso de drogas injetáveis.Além disso,  é importante expandir ascampanhas nos meios de comunicação, direcionadas aos grupos mais vulneráveis,como os homossexuais”, afirmou.

Ele disse que todos os setores da sociedade como ONGs, igrejas,associações de bairro e clubes de serviço devem levar mensagens de prevenção do vírus HIV à sociedade civil. “Nesses 30anos de existência da epidemia, já foi demonstrado ser um bom negócio osgovernos se associarem às ONGs que têm mais facilidade de lidar com assuntoscomplicados como a aids, doença de transmissão sexual”.  

O coordenador do Unaids no Brasil, Pedro Chequer, um dos palestrantes doencontro, afirmou que a população precisa ser esclarecida de que o preservativo é referência única para barrar a transmissão do HIV. Chequer lembrou que aintegralidade das ações de assistência, em parceria com estados e municípios,permitiram estabilizar a epidemia no Brasil desde o ano 2000,embora haja ainda muito o que fazer em termos de alerta à população para evitar o aumentodo número de casos.

A produção atual de preservativos no mundo é insuficiente para atender as necessidadesda população, disse Chequer.“Estimativas apontam que, se metade da população global, de 15 a 49 anos, resolvesse  usar preservativo, tendo apenas uma relaçãosexual por semana, teríamos um déficit de 30 bilhões de unidades anuais. Issosignifica que o mundo precisa se mobilizar para aumentar a produção dacamisinha. O Brasil, além de importar o produto, vai inaugurar, ainda neste ano,uma fábrica de preservativo estatal, em Xapuri, no Acre, utilizando o látex daAmazônia.

Jacqueline Cortes, do Programa Nacional de Aids, destacou que as iniciativas de combate à epidemia no Brasiltêm alcançado resultados positivos, dando acesso a tratamentos maishumanizados e insumos de prevenção, por meio de parcerias firmadas comorganismos internacionais e nas trêsesferas de governo (federal, estaduais e municipais). “Existe um comprometimentopolítico que faz a diferença. Mais de 90% do orçamento para o programa da aidsvêm dos cofres públicos, e não de empréstimos de agências bilaterais, emboraexistam acordos com a Organização das Nações Unidas [ONU]", comentou.

De acordo com Jacqueline, estudos recentes indicam  que 600 mil pessoas estariam vivendo noBrasil com vírus HIV, embora um terço desconheça a sorologia positiva para odesenvolvimento da doença. Além disso, acrescentou, existem 180 mil em tratamento com medicamentosanti-retrovirais fornecidos pelo governo. Jaqueline Cortes defendeu a necessidadede ampliar os testes voluntários para possibilitar a realização dodiagnóstico precoce e o bloqueio da evolução do vírus. 

Dados do Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aidsindicam que, desde o início da epidemia, na década de 80, até junho deste ano,Pernambuco registra mais de 13 mil casos da doença, figurando em primeirolugar entre os estados do Norte e Nordeste com maior incidência da  enfermidade.