Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Mais do que uma reunião de militantes, a Parada Negra é uma forma aglutinadora e abrangente de reunir tanto o povo negro quanto os aliados anti-racistas em uma manifestação que seja uma expressão da unidade do povo negro, afirmou o coordenador do movimento Brasil Afirmativo, Dojival Vieira, um dos organizadores da parada e da Marcha da Consciência Negra, que se realizam na tarde de hoje (20), Dia Nacional da Consciência Negra.Segundo ele, o objetivo é que a Parada Negra seja também uma manifestação para a reflexão da sociedade sobre a desigualdade social e racial no Brasil e para a falta de políticas públicas direcionadas à inclusão da população negra. “Nós cobramos do Estado que de fato adote políticas públicas que representem a inclusão da população negra aos direitos básicos da cidadania. Que o Estado não se mantenha inerte como vem fazendo, que deixe de praticar racismo institucional e passe a adotar políticas públicas inclusivas, absorvendo suas demandas e dando respostas. Isso vem acontecendo muito timidamente”, afirmou.Com o lema Por um Brasil sem racismo com igualdade de oportunidades para todos, a Parada Negra tem por objetivo alertar a sociedade contra o racismo, o preconceito, a homofobia, o machismo e a intolerância religiosa. Os manifestantes pedem ainda a aprovação imediata do Estatuto da Igualdade Racial, do Projeto de Lei nº 73/99, que dispõe sobre cotas e ações afirmativas, e da proposta de emenda à Constituição (PEC) 02/06, que cria o Fundo de Promoção da Igualdade Racial. Outra reivindicação é a instituição do dia 20 de novembro como feriado nacional.“Nós conseguimos coletar 100 mil assinaturas que foram entregues ao presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e ele se comprometeu a pautar o projeto do Estatuto. Na próxima segunda-feira inclusive haverá uma comissão geral no Congresso com debates sobre o tema”, disse Vieira, ao lembrar que o estatuto está no Congresso Nacional há 12 anos e sintetiza as principais reivindicações da população negra brasileira nas áreas da saúde, educação, mercado de trabalho, direito e religião de matriz africana. O estatuto, acrescentou, ainda não contempla tudo que a população negra necessita, mas já é um passo para que se estabeleça um marco jurídico que garanta a igualdade do povo negro no país: “Todos os anos, nesta época, vemos os indicadores que mostram, por exemplo, que um homem negro com escolaridade superior ganha 27% menos do que um homem não-negro com a mesma escolaridade. As diferenças salariais são gritantes. A cada novembro as pessoas têm contato com essa realidade”. Vieira ressaltou que esses indicadores são fruto da discriminação incutida e mantida na cultura do país há séculos: "Hoje as pessoas vêem esses dados e não se espantam mais. É contra essa naturalização que temos que lutar”. Ele lembrou ainda que a manifestação ocorre na Avenida Paulista, onde se concentra um dos pólos financeiros do país: "A Parada Negra é um momento em que vamos dizer que não é possível ignorar mais esses números revelados à exaustão. Não é mais possível continuar aceitando o que os efeitos dessa cultura de discriminação representam sobre nós.”