Participantes do Encontro Nacional de Fé e Política pedem democracia participativa

11/11/2007 - 13h49

Fabíola Ortiz
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Movimentos sociais, organizações não-governamentais e representantes da Igreja Católica que integram o Movimento Nacional pela Fé e Política defenderam ontem (10) a democracia participativa, com todos os cidadãos brasileiros tendo acesso às decisões políticas, moradia, educação e saúde.Eles estão entre as cerca de 5 mil pessoas de diversos estados reunidas no 6º Encontro Nacional de Fé e Política, realizado noSesc de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, para discutir a relaçãoentre religiões e política na América Latina. O evento termina hoje (11).O teólogo Frei Betto, que foi conselheiro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início de seu governo e atualmente assessora movimentos populares, disse que "o grande problema do Brasil é que o Estado foi construído para servir a 20% da população, e não para servir ao conjunto dela". Segundo ele, há necessidade de "aprimorar a democracia brasileira e torná-la realmente participativa".Ele também ressaltou a necessidade de multiplicar as formas de comunicação através de rádios e TVs comunitárias, fazendo uma reforma no sistema de comunicação do país. "O que ocorre no sistema de grandes veículos de comunicação no Brasil é que hoje não tem mais opção, é um pensamento único, como se refletisse o consenso da nação".Sobre a questão da democratização dos meios de comunicação, Frei Betto afirma que "a TV pública será bem-vinda se for um aprimoramento profissional da inserção da voz popular". "Minha grande pergunta é de que maneira a TV pública vai ser um canal da voz e vez dos povos desse país", afirmou.O teólogo Leonardo Boff correlacionou fé e política, enfatizando que a fé pode colaborar para que as relações sociais sejam de inclusão, justiça e cooperação, e não só de competição, exploração e conflito. Ele defendeu uma forma mais ampla de democracia, que é "a participação e inclusão das pessoas, dar palavra e permitir que elas ajudem a formularprojetos".Para ele, o cidadão deixou de ser massa de manobra, pois tem consciência de seus direitos. "Quando os cidadãos se unem em movimentos sociais, a verdadeira democracia se dá pelo jogo dinâmico de participação, a política se define pela construção do bem comum", destacou.João Pedro Stédile, um dos líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que também participa do encontro, afirmou que é preciso recuperar a essência da democracia e formas de participação popular nas decisões políticas, principalmente no que se refere à reforma agrária."Nós estamos vivendo a hegemonia do modelo neoliberal. E para o capital financeiro, não precisa haver reforma agrária. Estamos num dilema, ela [a reforma] só vai deslanchar no Brasil quando derrotarmos o neoliberalismo. Infelizmente, o governo Lula está priorizando o agronegócio em vez de priorizar os camponeses".