Estudos propõem uso de metano acumulado em hidrelétricas para produção de energia

02/11/2007 - 10h58

Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O aproveitamento dometano emitido pelos reservatórios de hidrelétricaspode aumentar a capacidade de geração energéticadessas usinas, concluem pesquisas de duas instituiçõesbrasileiras. Elas propõem a captação e queimadesse gás para produção de energia elétrica.

Nas represas dessas usinas, o metanoé produzido pela ação de bactérias nadecomposição da matéria orgânica que ficousubmersa com a formação do lago – florestas inteiras,em alguns casos. Pelos cálculos de um grupo depesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), oincremento na produção pode chegar a 30%. De acordo como pesquisador do Inpe Luis Bambace, um dos autores do estudo, todasas hidrelétricas do planeta são responsáveis poremissões entre 14 milhões e 24 milhões detoneladas de metano por ano. O potencial de aquecimento do metano écerca de 20 vezes maior que o dióxido de carbono, gásconhecido como o grande vilão efeito estufa. Desse modo, outro efeito esperado com o aproveitamento energético é a redução dos impactos dessas estruturas no aquecimento global.

Cerca de 1% do metano dashidrelétricas é liberado pela superfície doreservatório, mas as maiores quantidades, concentradas naspartes mais profundas, são lançadas na atmosfera quandoa água passa pelas turbinas e vertedouros (aberturas por ondeescoa a água da represa). “Na hora em que você baixa apressão, acontece uma coisa similar a uma garrafa derefrigerante quando é aberta: o gás é eliminadocom força”, explica Bambace.

Para evitar que o gás chegueà atmosfera, a idéia do grupo do Inpe écapturá-lo no fundo da represa e para isso, os pesquisadoresdefendem soluções baratas, como a instalaçãode lonas e bóias para construir uma barreira física eimpedir que águas profundas cheguem às turbinas evertedouros. Sem a possibilidade de escape, o gás ficariaconcentrado no fundo do reservatório. “Esse aumento deconcentração viabiliza alguns processos de extraçãocomercial de metano”, diz Bambace.

A água rica em metano seriatransportada, por tubulações, para a superfícieaté estruturas preparadas para “colher” o gás.“Para extrair, é possível fazer borbulhar o gás,ou gerar névoa por meio de nebulizadores de impacto: vocêgera névoa e faz o metano se difundir para dentro de um vaso,uma coluna de absorção”, explica.

Segundo Bambace, partes do modeloexperimental já estão sendo testadas em laboratório,mas a construção do mecanismo depende da usina em queele vai operar e dos resultados de mitigação dasemissões na superfície. “Estamos em negociaçãocom alguns grupos para intensificar a monitoração decarbono em várias represas, nas regiões Norte, Sul,Sudeste e no exterior”, adiantou.

Pesquisador do Instituto Nacional dePesquisas da Amazônia (Inpa), o biólogo AlexandreKemenes também patenteou uma tecnologia para aproveitamento demetano em hidrelétricas. Diferentemente do grupo de Bambace, opesquisador avalia ser mais eficiente retirar o gás quando aágua passa pelas turbinas da usina, não no fundo dosreservatórios.

“Imagino que as turbinasfacilitariam a coleta do metano porque a área de saídaé uma região bem pequena, poderia ser feita umabarreira física para segurar todo aquele gás”,comenta. Para Kemenes, apesar das diferenças, os dois modelossão aplicáveis, dependendo do tamanho da hidrelétrica.“O nosso se aplica a uma área bem reduzida. Em Tucuruí,por exemplo, por causa do fluxo [de águas nas turbinas]muito intenso, seria melhor interceptar o gás com o métododeles [Inpe]”, compara.

Empresas brasileiras de operaçãode hidrelétricas já demonstraram interesse pelatecnologia, segundo Kemenes, mas o pesquisador prefere nãoarriscar um prazo para o início do aproveitamento: “Dependede investimento: de quem quer investir, do quanto querem investir”.Na avaliação do pesquisador, estimular esse tipo detecnologia pode ser uma opção mais viável que aconstrução de novas usinas. “É maiscompensador aproveitar todo o metano das hidrelétricasamazônicas antes de construir outra hidrelétrica naregião”, avalia.