Manutenção de taxa de juros gera frustração, afirma professor da UnB

18/10/2007 - 9h13

Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 11,25% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central gera frustração. A afirmação é do professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Piscitelli.Com a decisão, tomada ontem (17), o Copom interrompeu uma trajetória de queda iniciada em setembro de 2005. Para o professor, todos os fatores que poderiam pressionar a inflação, fator que leva o comitê a não reduzir a taxa de juros, estão sob controle.“Apesar de ter havido nos últimos meses algum aumento [dos preços] no grupo alimentação, isso já ocorreu de forma mais intensa. As perspectivas de aumento recuaram”, disse, em entrevista hoje (18) à Rádio Nacional.Para Piscitelli, a decisão é resultado de excesso de rigor do Banco Central já que, pelas estimativas, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve ficar abaixo do centro da meta para este ano, que é de 4,5%. “Às vezes, algumas autoridades agem de forma tão rigorosa que mesmo o centro da meta parece insuficiente”, afirmou.O professor citou outros fatores que poderiam justificar redução na taxa básica de juros, como a valorização do real, o que contribui para manter a estabilidade dos preços. “É verdade que a gente tem uma demanda doméstica que se aqueceu. Aumentou nível de emprego, de renda, há mais crédito, há mais formalização da mão-de-obra, mas há uma contrapartida de aumento da oferta”, acrescentou.Na avaliação de Piscitelli, não há fatores que venham “causar a curto prazo um colapso no abastecimento”. “Há um outro setor que está em um nível de utilização da capacidade instalada muito elevada, mas na realidade está-se investindo muito mais do que em anos anteriores.” O professor acrescentou que uma “eventual escassez de produtos” gerada pelo aquecimento no mercado interno pode ser enfrentada com a importação.Piscitelli disse ainda que, segundo estimativas de especialistas, a taxa real de juros (descontada a inflação) está muito elevada no Brasil. Atualmente essa taxa está em torno de 7%, segundo ele, 3,5 vezes acima da média das taxas de juros reais no mundo.