Ex-ministro critica oposição a metas de corte de gases para países em desenvolvimento

20/09/2007 - 15h15

Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O diplomata brasileiro Luiz FelipeLampreia criticou hoje (20) a posição do governofederal contrária à adoção de metas deredução na emissão de gases causadores doaquecimento global pelo país. Ao participar da Conferência InternacionalRio + 15, promovida pela empresa EcoSecurities no Rio de Janeiro paradiscutir avanços e desafios no combate ao aquecimento global15 anos depois da Rio-92, Lampreia afirmou que a posiçãobrasileira é a mesma de dez anos atrás, e que hojenenhum país pode se considerar isolado do problema. Ao falar com a imprensa, o diplomata, que foiministro das Relações Exteriores no governo FernandoHenrique, lembrou que o Brasil é o oitavo maior emissor degases de efeito estufa no mundo e defendeu que por isso o paísparticipe das negociações sobre a adoçãode limites para as emissões. “Cada um tem que ter uma responsabilidade deacordo com o seu peso nesta questão”, comentou.“Evidentemente, que não fomos nós que começamos[o aquecimento global], porque não fomos nós quecomeçamos a poluir, a ter indústria, a ter automóveisem massa e tudo o mais. Mas hoje em dia, apesar da nossa excelentematriz energética, somos um dos dez maiores poluidores domundo, por causa do desmatamento da Amazônia.”Lampreia considerou “míope e egoísta”a resistência do governo brasileiro em assumir metas parareduzir a emissão de gases do efeito estufa. “É umaposição equivocada. Tem que evoluir para ser maispró-ativa, mais participativa, não pode ser uma posiçãopassiva.” E acrescentou: “Evidentemente não se trata decumprir o que for mandado, de fazer uma lição de casaque outros prescrevem. É se fazer o que for melhor para oBrasil, para a sociedade brasileira, e com o apoio internacional.” Ele destacou, no entanto, que as regras paralimitar as emissões nos países devem ser estabelecidasde acordo com as responsabilidades e capacidades de cada naçãoe incluir o apoio internacional.Para Lampreia, as regras para reduzir emissõesde carbono devem ser negociadas e não afetam a soberania dopaís, porque em casos de interesses humanos e nãoexiste esse tipo de barreira. “Todos os acordos internacionais sãouma limitação de soberania”, argumentou. “Hoje emdia não existe mais esse conceito de soberania nesses termos.Para direitos humanos e assuntos globais não existe essabarreira de soberania. Essa é uma atitude autocráticaantiga. Isso não existe mais.”Atualmente, o Protocolo de Quioto, acordointernacional que estabelece medidas para frear as emissões degases do efeito estufa no planeta, só prevê metas deredução nas emissões para os paísessignatários que se industrializaram há mais tempo –principais responsáveis pelo acúmulo históricode gás carbônico na atmosfera, que pode levar a mudançasclimáticas globais. Pelo protocolo, os países emdesenvolvimento se comprometem a melhorar os processos produtivostornando-os menos poluentes e com maior eficiência energética,mas não estão obrigados a cumprir metas de redução.