Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O enfrentamento das mudançasclimáticas no planeta deve recair sobre os paísesdesenvolvidos, que criaram o problema. A avaliação édo canadense Maurice Strong, que foi secretário-geral daConferência das Nações Unidas sobre o Ambiente eo Desenvolvimento, conhecida como Cúpula da Terra, Rio-92 ouEco-92.Ele participou hoje (19), por videoconferência,da abertura da Conferência Internacional Rio + 15, semináriopromovido, no Rio, por uma empresa da área de projetos pararedução de emissão de gases causadores do efeitoestufa. O evento tem como mote os desafios e perspectivas no combateao aquecimento global 15 anos depois da Rio-92.Strong avaliou como uma hipocrisia a posiçãode países desenvolvidos de esperar que países emdesenvolvimento, que lançam hoje grande quantidade de gáscarbônico na atmosfera (considerado principal causador doaquecimento global), tomem a dianteira e reduzam suas emissõesde gases. “É totalmente hipócrita que ospaíses que criaram o problema sugiram que agora que o fardorecaia sobre Índia e China, que ainda estão no iníciodo seu processo de desenvolvimento. Esses países têm queter acesso a tecnologia e capital para atingir a sustentabilidade”.E acrescentou: “Temos que colocar o ônus sobre EstadosUnidos, Canadá, Austrália. A China estáatrasada, mas vem avançando e o que precisa é decooperação”.Considerada hoje o país que mais emite gáscarbônico, a China também é a primeira no mundoem projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), criado peloProtocolo de Quioto para estimular iniciativas de controle aoaquecimento global. De acordo com Strong, o mundo não avançoumuito desde a Rio-92 no sentido de reverter o avanço dasmudanças climáticas que podem pôr em risco a vidano planeta, principalmente porque falta vontade política.“Analiticamente sou pessimista, masoperacionalmente temos que ser otimistas. Temos muitos exemplos quemostram que é possível [reverter o fenômeno];alguns acertos, mas não em número suficiente, nãoa ponto de incluir todo o planeta na rota sustentável.”Ele defendeu a assinatura de tratado universal queenvolva todos os países num processo de cooperação.Hoje, 192 países são signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Climae só 175 assinaram o Protocolo de Quioto, que estipula metasde redução na emissão de gases que aumentam oefeito estufa.O canadense parabenizou o Brasil pela sua atuação:“Alguns dos maiores avanços foram feitos no país, comenormes sucesso no desenvolvimento econômico em harmonia com omeio ambiente. E não podemos esquecer que a criaçãodo MDL foi uma proposta brasileira”.Strong lembrou a liderança do paísna produção dos biocombustíveis a partir do usoda cana-de-açúcar e também da biomassa. Sobre aAmazônia, afirmou que a região é uma das reservasbiológicas mais ricas do mundo e destacou a soberania do paíspara preservá-la. “Em vez de dizer ao Brasil o que o deveser feito para protegê-la nós devemos desenvolver umprograma de cooperação que permita isso”, propôs.