Juliana Andrade
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Ao fazer uma análise das caixa-pretas do Airbus A320 da TAM, o coronel da reserva da Aeronáutica Antônio Junqueira disse que um erro na posição de um dos manetes do avião (que funcionam como aceleradores) contribuiu para o acidente com a aeronave, assim como a demora para frear a aeronave após o pouso. O especialista foi contratado pela Comissão Parlamentar de Inquérito do Apagão Aéreo (CPI) da Câmara para examinar os dados das caixas-pretas da aeronave, fornecidos pela Aeronáutica, e apresentou hoje (19) o resultado dos trabalhos.Durante a apresentação à CPI, o especialista chamou a atenção para ofato de o piloto demorar nove segundos após o pouso para pisar nofreio. Segundo ele, foram” nove segundos cruciais”.O coronel disse que a leitura das caixas-pretas mostrou que no momento do pouso o manete direito foi deixado em posição climb (de subida) e não idle (ponto morto). O especialista explicou que a posição incorreta do manete direito impediu que os spoilers (freios aerodinâmicos) fossem acionados. “Os spoilersse mostram cruciais no momento do pouso, porque ao mesmo tempo em quediminuem a sustentação da asa, fazendo com que o avião se apóie nostrens de pouso, esse painéis que se levantam, atuam como freioaerodinâmico e também ajudam a reduzir a velocidade”.Em agosto, deputados da CPI, após audiência a portas fechadas com o chefe do Cenipa, brigadeiro-do-ar Jorge Kersul Filho, disseram que os dados do computador de bordo do Airbus A320 da TAM indicavam que umdos manetes estava em posição errada durante o pouso. No entanto, o Centro deInvestigação e Prevenção de Acidentes (Cenipa) da Aeronáutica nãoconsiderou que isso comprovava falha do piloto.De acordo com o coronel que avaliou os dados, os spoilers “são fundamentais para o sucessodo pouso”, principalmente no caso de pistas consideradas curtas, como aprincipal de Congonhas, que à época do acidente tinha 1.940 metros.Atualmente as pistas de pouso principal e auxiliar estão mais curtas,pois foram criadas áreas de escape. Segundo a Empresa Brasileira deInfra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), a pista principal sofreu, emcada cabeceira, redução de 150 metros, passando para 1.640metros.“Não é admissível que uma tripulação com aquela quantidade de horas voadas tivesse deixado de reduzir as duas manetes”, disse Junqueira, que entre 1987 e 2002 trabalhou no Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes (Cenipa) da Aeronáutica.Ao ser questionado pelos parlamentares se houve erro humano, o especialista evitou responsabilizar os pilotos. Em entrevista no intervalo da reunião da CPI, Junqueira afirmou que “a leitura da caixa-preta diz que o piloto esqueceu [de colocar os dois manetes na posição de ponto morto]”.Para o especialista, há dois precedentes importantes que reforçam a tese de que os manetes em posição errada é uma das causas do desastre com o avião da TAM. São dois acidentes que, segundo ele, ocorreram nas mesmas condições das verificadas com o Airbus da TAM - um em Taipei, em 1998, e outro na Filipinas, em 2004. Segundo Junqueira, as duas aeronaves não foram destruídas nos acidentes, o que permitiu que as investigações chegassem à conclusão de que os manetes estavam na posição errada.